terça-feira, 29 de outubro de 2024

desconfortáveis versos

 

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desconfortáveis versos

REUNIÃO 
Veio o vento, e a terra se levantou,
estrelas surgiram pelo céu pálido
e teu rosto meditava sobre a morte.

Era um sonho dentro de um sonho.
Uma espada dentro da bainha.
Um escudo enferrujado no castelo.

O dragão cinzento no leito dourado,
onde outrora repousou uma Hydra,
sonha com fogo e morte,

assim como você,
que sobre a morte medita.




O CORVO
Eu vejo na minha mente
o corvo da minha imaginação.
Nobre, belo, tal corvo
range com o bico uma canção.

No sonho (eu sonho com ele)
ele e eu nos confundimos num só.
O corvo é meu pai e geme,
e eu canto uma canção.

Deu meia-noite no ponteiro,
o relógio badalou e sacudiu.
O corvo abriu as asas e partiu.
E uma pomba de meu peito nasceu.


ELA
Cantei uma canção antiga, há muito tempo,
eu era jovem, sem barba, 
e meus olhos viram a beleza dela,
a beleza de uma máscara de ouro.

Chorei diante de tanta beleza,
incandescente estrela ardia
em suas nebulosas narinas,
em seus seios de maçã.

Quem disse que a velhice faria
esfarelar esse amor que carrego?
Talvez hoje você grisalha e surda
não escute minha voz e nem se lembre

que um dia meu coração foi seu.
Não tem nenhum problema.
Nem cruz divina, nem martelo de deus nórdico,
farão eu esquecer a beleza eterna

a beleza eterna e bela de seus olhos.



O INVERNO
O inverno, essa montanha,
o grito do vento sobre o gelo,
a dor de um abrigo e um
cachecol jogado no chão.

O inverno, essa montanha,
a lágrima dura pelo rosto,
as vozes de outros povos,
uma pintura inacabada.

Em vão, o inverno, essa montanha,
o sono acaba de chegar,
a noite se espraia pelo céu
e tinge o artista e o inverno se foi.



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