segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
Lendas judaicas
Do rabino Elimeleque
O rabino Elimeleque havia feito uma bela pregação, e agora voltava para
sua terra natal. Para homenageá-lo e mostrar gratidão, os fiéis resolveram seguir a
carruagem de Elimeleque ate' que ela saísse da cidade.
Em dado momento, o rabino parou a carruagem, pediu que o cocheiro
seguisse adiante sem ele, e passou a acompanhar o povo.
- Belo exemplo de humildade - disse um dos homens ao seu lado.
- Não existe qualquer humildade no meu gesto, mas um pouco de
inteligência - respondeu Elimeleque. - Vocês aqui fora estão fazendo exercício, cantando,
bebendo vinho, confraternizando uns com os outros, arranjando novos amigos, tudo por
causa de um velho rabino que veio falar sobre a arte da vida. Então, deixemos minhas
teorias seguirem naquela carruagem, porque eu quero participar da ação.
O PAI DESOLADO
O rabino Abrahão vivera uma vida exemplar. Quando morreu, foi direto
para o Paraíso, e os anjos deram-lhe boas-vindas com cânticos de louvor.
Mesmo assim, Abraão permanecia distante e aflito, mantendo a cabeça entre
as mãos, e recusando-se a ser consolado.
Finalmente, foi levado diante do Todo-Poderoso,
e escutou uma voz, com infinita ternura, perguntar-lhe:
- Meu adorado servo, que amargura carregas em teu peito?
- Sou indigno das homenagens que estou recebendo – respondeu o rabino. –
Embora eu fosse considerado um exemplo para o meu povo, devo ter feito algo de muito
errado. Meu único filho, a quem dediquei o melhor de meus ensinamentos, tornou-se
cristão!
- Não se preocupe com isso – disse a voz do Todo-Poderoso. – Eu também
tive um único Filho, e ele fez a mesma coisa.
A MÃE DESOLADA
Contam os sábios do Oriente, mas apenas Jeová sabe de tudo!, que uma mãe judia tentou educar seu filho da
maneira mais tradicional possível.
O rapaz, porém, tinha uma personalidade forte, e fazia
apenas aquilo que o seu coração lhe indicava.
Quando morreu, assim como o rabino Abraão da história acima, ela foi
direto para o céu - já que tinha sido um exemplo de dedicação na Terra. Ali chegando,
contou às outras mães sua agonia com o filho – e descobriu que nenhuma delas estava
satisfeita com os caminhos que seus descendentes haviam seguido.
Depois de dias de conversa – onde lamentavam não terem sido fortes o
suficiente para controlar a família – o grupo viu Maria passando.
- Aquela ali conseguiu educar seu filho! – disse uma das mães.
Imediatamente, todas se dirigiram até Maria, e elogiaram a carreira
de Jesus.
- Ele foi um sábio – disseram. – Cumpriu tudo que tinha lhe sido destinado,
andou no caminho da verdade, não se desviou um só minuto, e até hoje é motivo de orgulho
para sua família!
- Vocês têm toda razão – respondeu Maria. – Mas, para falar a
verdade, meu sonho era que ele tivesse sido um médico...
ONDE DEUS MORA?
O grande rabino Isaque, quando ainda estudava as tradições de seu
povo, escutou um de seus amigos dizer, em tom de brincadeira:
- Eu lhe dou uma moeda se você conseguir me dizer onde Deus mora.
- E eu lhe darei duas moedas, se você me disser onde Deus não mora –
respondeu Isaque.
O MOMENTO DA AURORA
Um rabino reuniu seus alunos, e perguntou:
- Como é que sabemos o exato momento em que a noite acaba e o dia
começa?
- Quando, a distância, somos capazes de distinguir uma ovelha de um
cachorro - disse um menino.
O rabino não ficou contente com a resposta.
- Na verdade - disse outro aluno -sabemos que já é dia quando podemos
distinguir, à distância, uma oliveira de uma figueira.
- Não é uma boa definição.
- Qual a resposta, então? - perguntaram os garotos.
E o rabino disse:
- Quando um estrangeiro se aproxima, e nós o confundimos com o nosso
irmão, este é o momento em que a noite acabou e o dia começa.
A RESPOSTA
Certa vez um homem interrogou o rabino Joshua Ben Ibrahim
:
- Por que Deus escolheu uma sarça para falar com Moisés?
O rabino respondeu:
- Se Ele tivesse escolhido uma oliveira ou uma amoreira, você teria feito a
mesma pergunta. Mas não posso deixa-lo sem uma resposta: por isso digo que Deus
escolheu uma mísera e pequena sarça para ensinar que não há nenhum lugar na terra
onde Ele não esteja presente.
NAO ESQUEÇA DE GUARDAR A CAIXA
O velho trabalhou a vida inteira. Ao aposentar-se, comprou uma fazenda -
para que seu filho a administrasse - e resolveu passar o resto de seus dias na varanda da
casa principal.
O filho trabalhou durante três anos. Então começou a ficar com raiva.
- Meu pai não faz nada – comentava com seus amigos. – Passa sua vida
olhando o jardim, e me deixa trabalhar como um escravo, para que eu possa alimenta-lo.
Um dia, resolveu acabar com a situação injusta. Construiu uma grande caixa
de madeira, foi até a varanda, e disse:
- Papai, por favor, entre aí.
O pai obedeceu. O filho colocou a caixa em seu caminhão, e foi até a beira
de um precipício. Quando se preparava para joga-la lá embaixo, escutou a voz do pai:
- Meu filho, pode atirar-me do despenhadeiro, mas guarde a caixa. Você está
dando o exemplo, e seus filhos, na certa, vão precisar usá-la com você.
Narciso, conto de Salomão
Quando Narciso morreu, vieram as Oréiades – deusas do bosque
– e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
- Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso.
- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas. –
Afinal de contas, apenas de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o
único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
- Mas Narciso era belo? – quis saber o lago.
- Quem melhor do que você poderia saber? – responderam, surpresas, as
Oréiades. – Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.
“Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas
margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida”.
É PRECISO MANTER O DIÁLOGO
A esposa do rabino Iaakov era considerada por todos os seus amigos como
uma mulher muito difícil; por qualquer pretexto iniciava uma discussão.
Iaakov, porém, nunca respondia as provocações.
Até que, no casamento de seu filho Ishmael, quando centenas de convidados
comemoravam alegremente, o rabino começou a ofender sua mulher – mas de tal maneira,
que todos na festa puderam perceber.
- O que aconteceu? – perguntou um amigo de Iaakov, quando os ânimos
serenaram. – Por que abandonou seu costume de jamais responder às provocações?
- Veja como ela está mais contente – sussurrou o rabino.
De fato, a mulher agora parecia estar se divertindo com a festa.
- Vocês brigaram em público! Não entendo nem sua reação, nem a dela ! –
insistiu o amigo.
- Faz alguns dias, entendi que o que mais perturbava minha mulher era o
fato de eu ficar em silêncio. Agindo assim, eu parecia ignora-la, distanciar-me com
sentimentos virtuosos. e faze-la sentir mesquinha e inferior.
“ Já que a amo tanto, resolvi fingir perder a cabeça na frente de todo mundo.
Ela viu que eu compreendia suas emoções, que era igual a ela, e que ainda quero manter o
diálogo”.
A VERDADEIRA IMPORTÂNCIA
Jean passeava com seu avô por uma praça de Paris. A determinada altura,
viu um sapateiro sendo destratado por um cliente, cujo calçado apresentava um defeito.
O
sapateiro escutou calmamente a reclamação, pediu desculpas, e prometeu refazer o erro.
Pararam para tomar um café num bistrô. Na mesa ao lado, o garçom pediu a
um homem que movesse um pouco a cadeira, para abrir espaço. O homem irrompeu numa
torrente de reclamações, e negou-se.
- Nunca esqueça o que viu - disse o avô para Jean. - O sapateiro aceitou
uma reclamação, enquanto este homem a nosso lado não quis mover-se. Os homens úteis,
que fazem algo útil, não se incomodam de serem tratados como inúteis. Mas os inúteis
sempre se julgam importantes, e escondem toda a sua incompetência atrás da autoridade.
O rabino e o perdão
A historia é atribuída ao grande rabino Bal Shen Tov. Conta-se que ele
estava no topo de uma colina, com um grupo de estudantes, quando viu um grupo de
cossacos atacarem a cidade e começarem a massacrar as pessoas.
Vendo muitos de seus amigos, lá embaixo, morrendo e pedindo misericórdia,
o rabino exclamou:
- Ah, se eu pudesse ser Deus!
Um discípulo, chocado, virou-se para ele:
- Mestre, como ousa proferir uma blasfêmia destas? Quer dizer que, se o
senhor fosse Deus, ia agir de maneira diferente? Quer dizer que o senhor acha que Deus
muitas vezes faz o que é errado?
O rabino olhou nos olhos do discípulo, e disse:
- Deus sempre está certo. Mas se eu pudesse ser Deus, eu saberia entender o
que está acontecendo.
É’ TUDO UMA QUESTÃO DE TEMPO
Um judeu ortodoxo aproximou-se do rabino Wolf:
- Os bares andam cheios, e as pessoas varam a madrugada divertindo-se!
O rabino nada respondeu.
- Os bares andam cheios, as pessoas passam a noite em claro jogando cartas,
e o senhor não diz nada?
- É bom que os bares andem cheios – foi o comentário de Wolf. – Todo
mundo, desde o principio da criação, sempre desejou servir a Deus. O problema é que nem
todos sabem a melhor maneira de faze-lo. Procure julgar o que acha pecado, como se fosse
uma virtude. Estas pessoas que passam a noite em claro estão aprendendo a permanecer
despertas e persistir em algo. Quando se aperfeiçoarem nisso, tudo que terão que fazer é
voltar seus olhos para Deus. E que servos excelentes eles serão!
- O senhor é muito otimista – disse o homem.
- Não se trata disso – respondeu Wolf. – Trata-se de entender que qualquer
coisa que fazemos, por mais absurda que pareça, pode nos levar ao Caminho. É tudo uma
questão de tempo.
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