O meu verdadeiro eu está em outro lugar
(Poderia ter dito Rimbaud)
Dom Quixote não é louco: ele simplesmente finge loucura. Ele não tinha escolha senão forçar-se a cometer as ações mais absurdas que passavam por sua mente, para que os outros não alimentassem qualquer dúvida sobre seu estado de alienação mental. Só fingir ser louco poderia ter atacado os moinhos, só atacar as usinas poderia esperar que as pessoas o considerassem louco. Em virtude dessa genial simulação de Cervantes, o bem de Alonso Quijano, transformado em Dom Quixote, conseguiu abrir a porta que ainda faltava: a da liberdade. Curiosidade empurrou-o a ler, a leitura se imaginar, e agora, livre dos grilhões do hábito e rotina, e pode viajar pelas estradas do mundo, começando com estas planícies de La Mancha, porque a aventura é -bem que ele sabe que não escolhe lugares ou épocas, por mais prosaicas e banais que possam ser ou como se parecem. Aventura que, neste caso de Dom Quixote, não é apenas a ação, mas também, e principalmente, a palavra.
Fim
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