domingo, 17 de fevereiro de 2019

O Vento, Areia e as Estrela



Paulo Borges

Prólogo

 O frio do vento fez os pequenos pingos da chuva caírem no meu rosto. Ela ainda estava lá descendo a estrada em direção da cidade.

  Eu via os seus cabelos sendo levantados pelo vento, e pensei que ela estava livre para ser conduzida pela estrada que ela quisesse. Foi nesse instante que senti alguém sentando do meu lado.

- Você vãi deixar ela ir embora assim? -Uma voz me perguntou.

- O que eu posso fazer? -respodi. - Por acaso devo obrigar ela a ficar aqui comigo?

 Uma mão gelada me tocou. Senti um conforto como uma carícia que a tempos eu não recebia.

- Se quiser você pode se levantar e ir até ela e dizer o que sente. Tudo é possível para o que crê. Lembre-se sempre disse.

Quando virei para olhar e ver a pessoa que estava falando comigo, me vi completamente sozinho. Só uma pequena vaca pastava ao longe, do outro lado, na terra do vizinho.

 Entendi que um anjo tinha falado comigo. Ele tinha razão. Eu não podia deixar ela ir embora da minha vida.


Começo
 Quando cheguei na pequena cidade eu já tinha vivido muitas experiências. Eu não era um homem tolo, não no sentido de se deixar apaixonar por qualquer pessoa. Ia fazer vinte anos que eu estava no caminho da magia, um caminho nada peculiar, e até mesmo muito difícil de ser entendido.

 O meu currículo de vida podia ser resumido ao mais comum de todos: eu era um aluno medíocre, mas consegui me formar em uma universidade graças às boas condições sociais de meus pais. Não fui muito namorador, tive sorte de perder a virgindade com a empregada que tinha uns trinta anos.

 Por mais falador que eu fosse sempre gostei de me afundar em livros.

Principalmente em livros que falassem de magia ou religião. Quando me diplomei na faculdade senti um enorme vazio e uma sensação de que nada fazia sentido. Eu estava precisando de um choque de realidade. Porque às vezes grandes choques nos trazem vida.

Comecei a viajar. Nesse tempo encontrei o meu guia, um homem magro e ossudo, sempre disposto a falar em parábolas. Sua simplicidade me cativou até o fundo da alma.

Os mistérios do mundo da magia são muitos. As vezes é um caminho áspero, ele me dizia, olhando a estrada que eu devia percorrer para a minha Iniciação. Agora me diga, ele me disse, entre uma estrada com espinhos e uma estrada de asfalto, qual você percorreria?

-Mestre, e claro que eu percorreria a estrada de asfalto -respondi sem hesitar.-É a mais fácil.

-Por ser a mais fácil isso torna sua escolha a mais comum e a mais difícil. A estrada com espinhos só pode atravessar os valentes, os guerreiros, os santos, os profetas de Deus.

-Isso quer dizer que não posso entrar na Ordem?

-Claro que pode -ele me respondeu.-Mas você tem que lembrar que nossos caminhos nem sempre são lisos. Nem toda estrada asfaltada é boa para andar.

-Eu entendo mestre.

-Essa cidadezinha a frente tem uma pessoa que você vai encontrar que vai te ensinar umas lições. Depois de aprender todas elas você será um Guerreiro da Luz. Um membro da Ordem.

A cidade

Eu cheguei na cidade a noite, estava cansado e sozinho, perguntei a um homem que andava onde eu podia me hospedar.

Ele me apontou um pequeno estabelecimento perto da estrada de onde eu estava vindo. Fui para lá enquanto o céu parecia anunciar uma tempestade. Quando cheguei perto do local vi uma linda mulher de cabelos ruivos sentada na escada.

- O mestre disse que você viria - ela disse sem cerimônia. - Pode entrar. Seu quarto é o de número cinco.

 Me apresentei a ela esperando também ouvir seu nome. Seu silêncio me incomodou profundamente. Ela me olhava de cima para baixo, como se analisasse a minha alma.

- Não se preocupe - ela falou sem eu menos esperar. - Amanhã eu me apresento direito. Você está com olheiras e cansado. Durma. A cidade vai está de pé amanha de manha e eu tambem.

Achei graça no que ela disse, mas fiz como devia fazer. Escrevi meu nome na lista de hóspedes, subi até o quarto de número cinco e adormeci rapidamente.

Tive um sonho muito estranho. Sonhei que estava no campo olhando muitas ovelhas, e a estranha moça de cabelos ruivos ali estava comigo. Ela me apontava uma pirâmide, e dizia que ali estava o meu tesouro. O vento assoprava forte e uma voz dizia onde está o seu tesouro ali estará também o seu coração.

Acordei às sete horas da manhã. Levantei para tomar o café da.mesa. Comprimento com um aceno a dona da pousada, e vi a figura da mulher que havia falado comigo na noite anterior. Quando me sentei na mesa, novamente tive a sensação de que ela estava lendo a minha alma. Também notei que ela era muito mais bonita, um pouco branca e com um nariz arrebitado muito bonito. Seus olhos de uma cor verde me fizeram pensar se ela fosse irlandesa ou francesa. E realmente acertei no palpite.

- Me chamo Lana - ela disse, e na sua voz pousava um ar de mistério. - Sou parte da Ordem dos Três Caminhos. Estou aqui porque Mathias me disse que você é um iniciado.

- Sim, sou. Mas não sei por onde começar.
- Não tenha pressa. Aliás não tenha pressa de nada. Tudo o que tem que acontecer acontecerá. Se for pra você entrar na ordem, você entrara. Se não for...

- Já sei - interrompi meio zangado. - Não vou entrar.

- Não. Podemos te fazer membro honorário.

  Eu ri, sempre pensei que os Magos da Ordem fossem todos sérios.
Tomei o café e senti um doce perfume.

- Poxa vida -disse. - Que perfume bom que você está usando!
- Esse perfume que você está sentindo - Lana respondeu. - Não vem de mim, e sim da Força de Lótus.

 Não acreditei no que eu ouvia. Ela possuía o Dom de Lótus, uma das maiores forças espirituais dentro da Ordem.

Antigamente os membros da Ordem eram expulsos de todos os países onde tinham vínculos. E muitos com o Dom de Lótus era mortos, porque tinha forças espirituais além da nossa compreensão. Fiquei completamente encantado com Lana.

- Vamos - ela me disse. - Vamos dar uma volta pela cidade.

 A cidade não era muito grande. A única coisa que chamava a atenção era uma igreja bem no meio. As casinhas de madeira pareciam antigas, e as que eram feitas de tijolos lembravam as construções barrocas.

Um rio cruzava a cidade, e muitos turistas pareciam percorrer ela com muita vivacidade.

- Aqui sempre foi um centro de peregrinação para nossa Ordem.

- Essa cidade? Pensei que fosse em uma cidade mais ... Mística....

- Não é o lugar que transforma a pessoa. E sim a pessoa que se transforma no lugar.
É claro que Lana tinha razão. Percebi que além de muito bonita ela era muito sabia. Assim como o Mestre, ela tinha respostas na ponta da língua. Parecia sempre saber onde o meu pensamento estava me levando. Eu queria ser um membro da Ordem o mais rápido possível. Sempre fui uma pessoa apressada para as coisas desde pequeno.

- Você precisa aprender a ter paciência. Veja o rio. Ele não se apressa em ir para o mar. Ele simplesmente flui silencioso dentro da noite. Veja as estrelas. Que pressa elas têm em aparecer no céu enquanto o sol está brilhando? Elas brilham no momento certo, na hora certa. Tudo o que parece atrasado está sendo pontual. Até um relógio parado continua sabendo qual é o seu trabalho e por dentro de si continua a marcar as horas.

 Eram belos ensinamentos que eu desejava anotar em algum lugar. Como se soubesse a minha intenção ela me disse:

- Não precisa anotar essas coisas no papel. Escreva elas na tábua do seu coração.

E foi o que fiz.

Os três caminhos


-Todos os que iniciam os Caminhos Sagrados da Magia precisam aprender que existem apenas três caminhos.

 Cada caminho leva a algo, e cada coração está apto para encarar esses caminhos.

- Pode me explicar isso, Lana. Estou meio confuso.

- Claro que posso. E não só posso, como devo. Veja o exemplo dos Evangelhos. Os Quatro Evangelhos contam a vida do Mestre dos Mestres Jesus Cristo. Ambos são diferentes em si. Mas levam ao mesmo caminho: o caminho da verdade e da vida. O próprio caminho é a verdade. Não existe erro. Consegue entender isso?

 - Consigo.

- Então você não és tão burro como eu pensava.

 Lana era uma mulher atraente mas não deixava de dizer o que pensava. Isso criou um grande respeito entre mim e ela. Sei que eu não era seu discípulo ela só estava ali para me orientar, mas mesmo assim comecei a ver que ela não era apenas uma Iniciadora comum. Lana era uma feiticeira.

 - Os Três Caminhos assim são chamados pela força que os conecta. A Força é Deus, e Deus é a verdade. Esses são os caminhos que você irá conhecer, aprender, experimentar e então será consagrado:
O caminho do Vento, o caminho da Areia e o Caminho das Estrelas. Os três são um só. Assim como uma árvore tem vários ramos e é uma. Assim como Deus para os cristãos é três sendo Um só.

 Ao falar essas coisas senti um leve arrepio percorrendo a minha alma. Lana mandou eu fechar os olhos para sentir o Vento que passava.

- Não se assuste com o que pode acontecer. Você poderá ouvir anjos, demônios, sim. Mas lembre que Deus é o teu escudo e a tua fortaleza. Vamos começar pelo caminho do Vento. Se você estiver disposto.

- Eu estou.


Quando voltamos até a pousada vi que Lana não tinha falado nada. Ela estava dormindo ao lado do quarto onde eu estava, e logo ela saiu para jantar.
 Sempre fui muito curioso e também sempre dei em cima das mulheres. O que não é nenhum  pecado. Queria saber sua história, se ela era ou não uma feiticeira. De onde ela vinha, e como entrou na Ordem.

Ela começou me contado que não tinha nascido ali, mas conhecia Tarbes de tras pra frente. Ela tinha bisavós irlandeses, e na infância foi uma menina quieta e tímida.
 Disse que tinha uma irmã, mais bonita e mais inteligente. Sem muitos amigos ela decidiu que iria se destacar em algo. E começou seu aprendizado no mundo da magia.

 Foi aí, ela contou, que decidi ser uma feiticeira quando encontrei um grupo da Ordem dos Três Caminhos. Percebi que o caminho da magia pode ser acessado por qualquer pessoa. Não é preciso dons, não é possível que as pessoas não entendam isso.

Lana tinha um jeito marrento de ser, mesmo assim ela era muito encantadora. Me contou que conheceu o Mestre quando foi viajar pelo Caminho das Estrelas.

 - Mas então eu vou ter que viajar para outros lugares para ser aceito na Ordem.

- É claro que não. Pare de bancar o tonto. Suas lições podem ser feitas aqui. O lugar não é importante, já te disse isso. O importante é a sua compreensão dos Três Caminhos.

- E quando vamos começar ?

- Você é muito impaciente. Isso não é bom para um Guerreiro da Luz. Mesmo assim espere. Nós vamos começar pelo Primeiro Caminho.

O Caminho do Vento


O horizonte se tingiu de vermelho, e depois apareceu o sol. Me lembrei da conversa com Lana e senti uma estranha alegria;

 Eu tinha conhecido muitas mulheres (mas nenhuma igual àquela).

  O mais importante,
entretanto, é que eu ia começar o Caminho.
Todo dia eu ia realizar o grande sonho da minha  vida.

"Não sei como as pessoas buscam Deus em um lugar como esse”, falou Lana, enquanto olhavamos o sol que nascia ao lado da igreja.

"O mundo é grande e inesgotável, o problema é que elas não se dão conta de
que estão fazendo caminhos novos a cada dia. Não percebem que os pastos mudam, que as estações são diferentes – porque essa é a graça de Deus.”

- Talvez seja assim com todos nós – falei para ela.

Lana me observou com atenção como sempre fazia.

- O destino muda tudo...

Sua voz parecia uma suave rosa sendo alisada pela brisa do campo.

Lana continuou em silêncio por algum tempo. Depois tornei a falar para ela do estranho sonho que tive com ela.
– Posso te dizer o que ele significa – disse ela. Mas é preciso ter olhos de ver e ouvidos para ouvir para compreender os mistérios.


– Então interprete o sonho – pedi e contei a ela tudo.


– É um sonho que fala do Caminho do Vento – disse ela. – Posso interpretá-lo, e é
uma interpretação muito difícil. Porque esse é o primeiro Caminho da Tradição.


– Seu sonho é um sonho muito difícil. As coisas simples são as mais difíceis e só os sábios conseguem percebe-las.

– Então não sou muito sábio.

– Não. Não é nada sábio. Vou te explicar o Caminho do Vento agora.

Saimos andando pelas ruas estreitas. Em todo canto haviam barracas de coisas para vender. Chegamos enfim no meio de uma grande praça, onde funcionava o mercado.
Havia muitas pessoas na rua.

De repente, no meio de toda aquela confusão, uma imensa ventania começou. Como se fosse chover.


Meu coração ficou pequeno, como se o peito tivesse subitamente encolhido.
Tive medo de olhar para o lado, porque sabia o que ia encontrar. Os olhos de Lana continuaram fixos em mim.

Em volta dela o mercado, as pessoas indo e vindo, gritando e arrumando as coisas por causa da chuva, que parecia que ia desaguar a qualquer momento.

- O Caminho do Vento permite que as pessoas comuns façam ventar.

- Como posso fazer isso? Eu não tenho o dom.

- Se você acreditar em você, verá que e capaz de fazer chover. Feche os olhos.

Fechei os olhos e quando Lana pediu para mim voltar a abrir que a ventania tinha passado.

- Não se esqueça que Jesus disse que faríamos obras maiores.

- O Caminho do Vento e a fé? - perguntei.

- Sim.

 Fiquei em silêncio por algum tempo, ouvindo o som das pessoas.

Depois, Lana se virou e falou:

– Há dois mil anos, numa terra distante, jogaram num poço e venderam
como escravo um homem que acreditava em sonhos –
compraram e o trouxeram para o Egito. E todos nós sabemos que, quem acredita em
sonhos, também sabe interpretá-los.
 Por causa dos sonhos do faraó com vacas magras e gordas, este homem
livrou o Egito da fome. Seu nome era José. Era também um estrangeiro numa terra
estrangeira. Ele seguiu a Tradição do Vento. O Caminho do Vento é a fé.
Sempre seguimos a Tradição.  A Tradição ensina como os homens devem
atravessar o deserto. A Tradição é a fé.
 A Tradição diz também para acreditarmos nas mensagens do deserto. É preciso aprender com o deserto. O que tem no deserto?

- Areia

- Tudo que sabemos foi o deserto que nos ensinou. Agora eu vou te ensinar o Caminho da Areia.
O Caminho da Areia

Na manha seguinte nos levantamos. Eu tinha aprendido que o Caminho do Vento dependia da fé. E agora queria aprender que ensinamentos o Caminho da Areia iria trazer para a minha alma.

 Lana estava do meu lado usando uma roupa muito confortável. Começamos a andar até chegarmos em um lugar arenoso.



Andamos por quase todo o resto da tarde sem conversar nada.  Estavamos isolados em nossa convivência forçada.  Ao ir do lado de Lana fui percebendo o quanto ela era uma mulher linda. As lições do Vento me mostraram que ela podia fazer ventar com muita facilidade. Ela me disse que isso não era bem assim. Nem tudo pode ser feito da maneira que queremos, falou, tudo depende do momento e da hora.

- E sobre o que é Caminho da Areia?

– Hoje em dia Deus é apenas um conceito, quase provado cientificamente. Onde você desejar ver a face de Deus, você a verá. E se não quiser vê-la, isto
não faz a mínima diferença, desde que sua obra seja boa. O Caminho da Areia fala sobre o Amor. O Amor é aquilo que nos move. O Amor de Deus é a verdadeira força. A Ordem obedece sempre o que Deus nos ensina: a fé, o amor. Força vital que rege a existência.

- Eu consigo compreender Lana. É como o que sinto por você. Amor.

Lana suspirou como se esperasse ouvir isso.
- A grande capacidade do ser humano está no de poder fazer suas escolhas. Ninguém escolhe se apaixonar. Ninguém escolhe nascer em tal país. Mas as pessoas conquistam. Quando você quer algo a vida quer que você conquiste o que deseja.

- Lana, e porque o Caminho é representado pela areia?

- A areia serve para amaciar os pés, e também para chegar os olhos. Nem tudo o que é belo é reluzente.

- Qual o propósito desse caminho?

- O deserto está cheio de areia, e é no deserto que o homem tem o coração provado. Ao falar isso os olhos de Lana brilhavam. - Só depois de aprender a ver é que você poderá decidir se as coisas são importantes ou não. Você já é adulto o bastante para saber que um homem de conhecimento vive por seus atos, não por pensar nos atos, nem por pensar no que vai pensar depois de agir. Um homem de conhecimento escolhe o caminho do coração e o segue. Depois, olha o mundo a sua volta, fica contente, e ri. Porque ele sabe que sua vida terminará muito depressa. Sabe, porque vê, que nada é mais importante do que qualquer outra coisa. Um homem de conhecimento não é fiel a nada, apenas à maneira que decidiu viver sua vida.

- E alguém pode escolher viver apenas de amor?

Lana disse: Já lhe disse que, quando você fala, só faz é confundir-se mais.– Mas, pelo menos, agora está consciente de que está esperando que a sua vontade se manifeste. Ainda não sabe como ela é, nem como vai chegar até você. Mas entenda uma coisa: aquilo que poderá ajudar a receber e desenvolver sua vontade está no meio das pequenas coisas Preste atenção a elas!

Olhei ao redor e vi no meio da Areia que nos cercava um grande campo cheio de árvores frutíferas: Laranjeiras, macieiras e limoeiros. 


- Esse vida no deserto. A areia não representa apenas morte.


- Não. Não representa. Agora você já está pronto para o último caminho: o Caminho das Estrelas.



O Caminho das Estrelas


Ao confessar o meu amor por Lana pensei que ela também iria me corresponder. É difícil conquistar o coração de uma feiticeira. Mais não é impossível.


Traçamos nossas vidas pelo poder de nossas escolhas. Quando nossas escolhas são feitas passivamente, quando não somos nós mesmos que traçamos nossas vidas, nos sentimos frustrados. Uma pequena mudança hoje pode acarretar-nos um amanhã profundamente diferente. São grandes as recompensas para aqueles que têm a coragem de mudar, mas essas recompensas acham-se ocultas pelo tempo.


Geramos nossos próprios meios. Obtemos exatamente aquilo pelo que lutamos. Somos responsáveis pela vida que nó próprios criamos. Quem terá a culpa, a quem cabe o louvor, senão a nós mesmos? Quem pode mudar nossas vidas, a qualquer tempo, senão nós mesmos?

Deus sabe que isto é verdade. Eu iria aprender mais sobre os Caminhos. Mas o Último Caminho poderia ser a minha provação. 

Esperamos anoitecer para sair. Lana parecia ainda  mais bonita sobre a luz das estrelas. Paramos e ela começou a falar:


Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Uma alma gêmea é alguém cujas fechaduras coincidem com nossas chaves e cujas chaves coincidem com nossas fechaduras. Quando nos sentimos seguros a ponto de abrir as fechaduras, surge o nosso eu mais verdadeiro e podemos ser completa e honradamente quem somos. Cada um descobre a melhor parte do outro.


- Lana, eu disse sem querer, eu te amo!


Ela me olhou nos olhos. 


- O Caminho das Estrelas é o Caminho da Vitória. Todo Guerreiro da Luz tem sua luta. E em toda luta existe a vitória ou a derrota. A sua vitória foi passar nessa cidade e aprender as Práticas Antigas da Ordem dos Três Caminhos. Você já pode ouvir a lua, os anjos, as estrelas, se quiser. Deve aclarar os seus sentimentos. 


Lana me estendeu um broche e eu segurei suas mãos.


– Você é mestre de sua vida? – perguntei pra ela.

– Claro que sou! Eu, você e todos os outros. Mas nos esquecemos disso.
– Como eles fazem isso?
– Como quem faz o quê?
– Como os mestres mudam sua vida quando querem?
Ela Sorriu a esta pergunta.
– Com armas poderosas.
– O quê?
– Outra diferença entre mestres e vítimas é que as vítimas não descobriram as armas poderosas e os mestres as usam o tempo todo.
– Furadeiras elétricas? Serras circulares? – Ele parecia um náufrago em busca de socorro. Um bom professor o teria deixado descobrir a resposta sozinho, mas eu falo demais para um professor.
– Nada disso. 'Escolha'. A lâmina encantada com um fio que modela as existências. Se ainda assim temos medo de escolher outra coisa que não o que já temos, o que adianta escolher? A escolha é a arma do sábio. E você escolheu chegar até aqui. Você deve escolher todo o resto. Parabéns, você já pode participar das reuniões da Ordem.

Lana voltou pela estrada e eu consegui ver seus cabelos esvoaçantes pelo vento. Eu era um Guerreiro da luz. 


O conselho do anjo falou fundo na minha alma. Eu não podia deixar Lana sair da minha vida. 

- Lana, gritei, me espera.

Ela virou o rosto e pela primeira vez que nos encontramos ela sorriu. 

Os Três Caminhos me conduziram até o meu Tesouro.

Fim.

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