De frente do mar
A morte não o assustava mais. Simplesmente passou a ser um assunto qualquer dentro de sua cabeça.
Ele já era um homem velho, de largos anos vividos, idade que poderia ser chamado de avô, não fosse o problema de nunca ter tido filhos.
As putas em sua vida foram muitas, difícil definir uma que tenha lhe marcado mais. Vivia desde tenra idade entre o trabalho e o puteiro.
Não quis se casar.
Não por causa de alguma culpa religiosa que trouxesse no peito. Mas sim pelo simples fato de ter tido uma decepção amorosa que marcou muito sua vida.
Hoje com tantos anos vividos olhava o mar do portão da sua casa. Lembrou que na sua adolescência conturbada, entre socos, cerveja e sexo, tinha lido um ótimo livro chamado de "O velho e o mar".
Hoje, pensou, sou esse velho. Porém o mar não me acalma a alma. Ali está ele, se movendo, como as coisas se movem. A vida se move. A vida é movimento. Eu já não tenho mais movimento. Não tenho mais vida. Porém ainda vivo.
Os olhos azuis se encheram de água ao ver uma linda mulher que passou em sua frente. Lembrou dela, aquela que tinha acertado uma pedra violentamente em seu coração.
Será que ela ainda se lembra de mim? Do outro lado o oceano se agitava. Não tenho mais medo da morte, pensou.
Não, não tenho.
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