“Allahur Akbar! Allahur Akbar!
Deus criou a mulher e junto com ela criou a fantasia.
E foi assim que um dia a Verdade resolveu conhecer um palácio por dentro. Mas, não escolheu um palácio qualquer, havia de ser o mais suntuoso de todos. Seria aquele em que vivia o grande sultão Haroun Al-Raschid. Resolveu, então, vestir seu corpo apenas com um véu claro e transparente e foi bater à porta do magnífico palácio. O guarda ao ver aquela mulher deslumbrante, quase nua, ficou desconcertado. E depois de um tempo, perguntou quem ela era. A Verdade, com a voz firme, respondeu:
– Eu sou a Verdade e quero falar com o seu amo e senhor, o sultão Haroun Al-Raschid.
O guarda apressou-se em falar com o grão-vizir. Inclinou-se humilde e falou:
– Senhor, uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar com nosso soberano.
– Quem é essa mulher? Perguntou o grão-vizir curioso.
– Ela disse que seu nome é Verdade! – respondeu o guarda.
O grão-vizir arregalou os olhos e proferiu:
– O quê? A Verdade quer entrar neste palácio? Não! Nunca! O que seria de mim? O que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? Estaríamos perdidos! Mande essa mulher embora imediatamente. Diga-lhe que uma mulher nua não entra aqui!
O guarda voltou e transmitiu à Verdade a resposta de seu superior. E a Verdade, muito triste, teve que ir embora.
Acontece que…
Deus criou a mulher e junto com ela criou a persistência.A Verdade não se deu por vencida, continuou a alimentar o propósito de visitar o palácio. E havia de ser o palácio em que morava o sultão Haroun Al-Raschid. Ela procurou roupas para vestir, cobriu-se dos pés à cabeça com peles grosseiras e malcheirosas e deixou somente o rosto de fora e foi para o palácio do sultão.
Quando o chefe da guarda viu pelos portões aquela mulher horrivelmente vestida, perguntou qual o seu nome e o que ela queria.
Em tom severo, ela respondeu:
– Sou a Acusação e exijo ter uma audiência com o senhor deste palácio.
O guarda, zeloso pela segurança do palácio, foi até o grão-vizir, ajoelhou-se diante dele e falou:
– Senhor, uma mulher desconhecida com o corpo envolto em vestes malcheirosas ordena falar com nosso sultão.
– Como ela se chama? – perguntou o grão-vizir.
– O nome dela é Acusação, Excelência!
Aterrorizado e tremendo dos pés à cabeça, o grão-vizir falou:
– Nem pensar! Nunca! Já imaginou o que seria de mim? O que seria de nós, se a Acusação entrasse aqui? Estaríamos todos perdidos, sem exceção! Mande essa mulher embora! Diga-lhe que com essas vestes grosseiras, rudes e pobres não pode falar com o Califa, nosso amo e senhor.
E assim, outra vez a Verdade foi embora. Virou as costas e se foi tristemente pelo caminho. Porém, ainda não se deu por vencida.
E isso porque…
Deus criou a Mulher e junto com ela criou o capricho.
A Verdade andou pelo mundo à procura dos mais belos trajes com veludos, brocados, bordados com fios das cores do arco-íris. Enfeitou-se com magníficos colares de pedras preciosas, anéis, brincos e pulseiras, perfumou-se com essência de rosas e envolveu seu rosto em um manto diáfano bordado de fios de seda dourado e prateado e voltou, é claro, ao palácio do sultão Haroun Al-Raschid.
Quando viu aquela mulher encantadora, mais linda do que a Lua, o chefe da guarda perguntou quem era. E em tom meigo e mavioso, ela respondeu:
– Eu sou a Fábula! E gostaria, se possível, de encontrar-me com o sultão deste palácio.
O chefe da guarda correu para falar com o grão-vizir, esqueceu-se até de ajoelhar diante dele e disse:
– Senhor, lá fora está uma mulher tão linda, mas tão linda que mais parece uma rainha. E deseja falar com nosso sultão.
Os olhos do grão-vizir brilharam:
– Como ela se chama?
– Chama-se Fábula!
– O quê? – disse o grão-vizir completamente encantando. A Fábula quer entrar em nosso palácio? Que grande notícia! Que entre e seja benvinda! Porém, para ser bem recebida como merece ordeno que cem escravas a esperem com presentes magníficos, flores perfumadas, danças e músicas festivas.
E assim, foram abertas de par em par, as portas do grande palácio de Bagdá para que finalmente a formosa andarilha pudesse passar.
E foi desse modo que a Verdade, vestida de Fábula, conseguiu aparecer ao poderoso Califa de Bagdá, Haroun Al-Raschid, o mais famoso sultão de todos os tempos.”
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