domingo, 18 de fevereiro de 2018

Ode ao paraíso cinzento



Sombria vida,
de muros selvagens de mensagens vazias,
meu escandaloso cabelo, meus olhos mudos,
ai, que posso fazer se sofro tanto?
Se estou sozinho quero estar sozinho contigo,
se estou com todos, estou com ninguém, vazio,
os copos são os rios dos meus espelhos partidos.

Vou mirar pela última vez o céu, vou compor
cem sonetos de amor para poder olhar teu paraíso,
sentir teu perfume de lodo e flor, compor os mais
lindos versos de um teatro esquecido.

Quero ser Adão para que você seja a minha Única Eva,
Eva, esperança minha, raiz de todos os mortos,
onde a luneta em forma de serpente observou
pela última vez a estrela que acompanhou nossa
jornada para demolir os nossos sonhos com punhos
de ferros e marfins de elefantes.

Sentado e chorando como Dante, suplicando
um beijo de sua amada Beatriz, eu te vi certa vez
no templo, cercada por Deus, e te beijei de longe,
chorando cravos e espinhos quando sufocavam minha
mão com pregos enferrujados e muros partidos.

Deixei pela última vez a minha única
mensagem para ela, para que ela soubesse
que o meu amor é isso, para que soubessem todos que
os meus pensamentos confusos  são o que me rodeiam,
porque eu sou o mundo e o mundo é você e nós somos
as desgraças que nos acontecem o tempo todo quando o
fogo não nos queima.

Tenho alguma resposta para todos,
enquanto chove pelas casas e as mulheres nos olham
trabalhando, tu e eu, como duas sombras de argila.
   A chuva de madrugada já não me molha mais
porque estou sem guarda-chuvas no meu amor, no meu coração
de metal e mel, devorado pelas abelhas e pequenos insetos.
    Sombria vida, única esperança
para nós dois. Véu eterno onde dorme e descansa Deus.
Que lindas palavras. Rasgou-se os véus... 

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