sábado, 24 de fevereiro de 2018

Do amor


Não movo minhas mãos
sem te tocar com nada
sem te querer com tudo
o que minhas asas possam
ter, sem respirar seu coração,
sem mastigar seus beijos de pão,
sem sentir o cimento vivo dos peitos
duros, diretos, concretos como
as calhas molhadas pelas chuvas,
nem toco os teus olhos com
os meus dedos de algas sujas,
respirando o teu perfume de
borboleta, colhendo tuas pétalas,
vendo os teus pés, ai raízes,
deslizando pelas ilhas,
subindo no mar um delírio,
dando ao céu um desejo
de eternidade que não existe,
construindo um coração feito
de ancas, nádegas nuas, cristalinas,
onde tua boca é o mel da terra,
e o teu nome é a silhueta do espelho,
e o amor existe, e o amor é,
e tudo respira vida, movendo as
asas dos aviões, o trigo, a boca,
e o amor, relâmpago marinho, ilumina-nos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário