Cada porta tem um encaixe,
cada fechadura leva a uma
nova fechadura, a outras dobradiças.
Por cima vemos o lado direito.
Por baixo prosseguimos pelo lado esquerdo.
E dá no mesmo. Porque o lado direito
e o mesmo lado esquerdo
são a mesma parte da
fechadura destrancada.
Quem ergueu esse muro
suave? Um mouro ou um cristão?
Deve ter sido difícil trazer
em um camelo os espelhos
para refletir esses tijolos feios,
esverdeados como o lodo das
árvores.
Mas é uma bela construção.
Algum rei viveu por aqui?
Ou somos todos reis, mesmo
com essas fachadas de turistas?
Mas não estamos vendo nada,
a não ser pela câmera cinematográfica.
Não dá no mesmo? Observe essa
espécie de monumento:
do lado direito, temos as cores negras,
e no lado esquerdo, umas paredes horrendas,
pintadas de branco, manchadas com algo
verde, refletindo o musgoso das rochas.
Temos que tomar cuidado
com cada escada.
O arquiteto e o engenheiro
quando foram construir o labirinto
discutiram muito, e decretaram
sem nenhuma cerimonia
que cada porta abriria novas portas,
e cada escada levaria para novas escadas.
É possível discutir a eternidade
com pessoas tão mesquinhas e frívolas
quanto as pessoas dessa miserável cidade?
Imagino que não. Porque o labirinto
nos revelaria essas questões,
afinal não foi num labirinto que tudo começou?
Não. Foi em um jardim chamado Éden. Tinha me esquecido.
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