O CAMPO MOLHADO
"...não. Deveríamos ter ficado em casa,
onde quer que isso seja?... '"
Elizabeth Bishop
Do outro lado o campo molhado
é uma pintura realista para
os olhos recém-acordados.
Uma névoa branca sinaliza
ao viajante que a chuva desceu
ontem clara e transparente,
querendo ser som de flauta
com os pingos e som de guitarra
com os trovões.
A chuva molha os nosso sonhos,
por isso não conseguimos dormir.
Cada estrela é uma mancha dos
pingos que caem no telhado.
Seria um anjo deslizando pelos
olhos, ou é apenas uma lágrima
que nos escapa para dançar com
a luz verde-branca que exala do
campo?!
Se um camponês quisesse escrever
um poema, talvez diria que o campo
molhado fosse a chave de Deus para
os pobres semearem os alimentos.
Um pintor não diria coisa profunda,
não, não desse tipo.
Um pintor realista iria retratar os bois
ao longe como pequenas bostinhas de
mosquitos.
Espere! Esse é o mesmo campo
ontem que avistávamos da janela?
O que aconteceu mesmo com aquele
azul intenso e aquele calor físico?
Parece que as nuvens levaram um
soco no meio do rosto: estão roxas.
Será que os insetos distinguem as
cores como os pintores fazem?
O branco arroxeado é uma sombra,
que nos lembra, quem sabe, um retorno
ao estado natural de um verso.
O poeta encerra a pintura com uma assinatura.
O campo irá mudar mais uma vez.
E o camponês com voz cansada irá
dizer uma coisa mais profunda do que o
pintor diria:
é, realmente Deus é o grande artista!
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