-para marianne moore
Em frente aos olhos
(se é que são olhos)
o branco da folha
imóvel
sacoleja ao vento
como um
automóvel.
Em frente a palavra
não quer descer porque
protesta contra tudo:
só os homens tem fome?
Mais em frente há em
silêncio uma mina cheia
de estrelas que não podem
esquentar o poeta fajuto
que vive
a descrevê-las.
Em verdade
faltam as palavras.
Em verdade
falta os jardins.
Em verdade
falta tudo.
Queira dizer, poesia,
que falta em ti a nota
melancólica de ser
anti-musical, fria,
verdadeira, concêntrica,
linguagem arguta e vela
acessa.
Uma rocha pode
muito bem ser
descrita por qualquer
bobo da corte.
Um elefante
diz-me mais
do que qualquer
burguês obeso.
Toma chá, toma erva,
não há nenhum endereço
dizendo para vós: vá para a esquerda, depois para a direita, depois sul, depois norte.
Pode se odiar não dizer nada
com as palavras? Deve-se!
o POEMA quer calar-se
porque o dicionário na
estante está na
greve dos louvores
do silêncio.
O silêncio diz muita coisa.
Mais o nosso silêncio pode ser descrito
como a chuva fria e lenta que cai nesse mês de 31 de agosto de 2016.
Eu posso ver isso na névoa.
E que se dane o resto.
Há pequenos pássaros
de quatro cores (preta, marrom, branca e amarela)
no muro não na janela.
Ben-te-vis
que voam.
Voemos no
poema com
palavras presas.
Nada disso pode ser sério.
Ou é sério e já não entendemos
sua seriedade...?!
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