quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Os fantasmas falam

para augusto dos anjos

 

Na noite sem aurora, ouvi suas vozes,

sussurros que corriam como vento em ruínas.

Não eram cânticos de consolo,

mas clamores de fome e saudade,

pois jazem além da terra e do tempo

os que nunca encontram repouso.


“Somos os ecos da carne perdida,” disseram,

“somos o pó que sonha, mas não desperta.

Vemos as estrelas, mas não tocamos,

ouvimos o mar, mas não bebemos.

E tu, ainda vivo, que ousas escutar,

saberás que teu riso é pó em espera.”


Tentei calar os ouvidos, mas não pude,

pois a noite inteira era feita de suas línguas.

E percebi — não há muro entre os vivos e eles,

há apenas véus de sombra tênue,

e cada respiração minha

já soa como ensaio de fantasma.


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