Nas arenas secretas onde a lua é toureira, E a sombra dança castanholas de veludo, Um anseio desperta, flor de dor e quimera, No coração que pulsa, no peito mudo.
Os touros do desejo, de olhos negros e fundos, Galopam sem rédeas, em busca de um abraço. Sua força indomável, em delírios profundos, Arrasta almas sedentas para o ardente espaço.
Não buscam mantilhas vermelhas, nem o aplauso, Mas a carne macia, a curva idêntica e doce. No suor dos seus corpos, que o destino não traçou, O grito de ternura que a boca estremece.
O capote da noite esconde rendas e beijos, E a estrela cigana ilumina a confissão. Dois homens, estátuas de nardos e cortejos, Unem seus destinos, sem perdão, sem razão.
Pelos becos estreitos, onde o fado se lamenta, As mãos se procuram, em tremor de amizade. No silêncio que fere, a paixão se alimenta, E o eco da censura se perde na cidade.
Ah, touros de carinho, de força e de quebranto, Que rompem barreiras, que desafiam a cruz. Na sua embriaguez, nasce um novo acanto, Sob o olhar furtivo da aurora sem luz.
Os chifres da angústia, afiados, pontiagudos, Por vezes ferem a alma, em gritos abafados. Mas o laço de seda, que os corações desnudos, Tece em segredo, jamais será desatado.
No sangue que pulsa, a mesma febre ardente, No beijo proibido, a mesma exaltação. Dois espelhos que refletem um sol reluzente, Desafiando o mundo com sua devoção.
Que as praças se calem, que as vozes se apaguem, Que o vento leve embora o murmúrio cruel. Pois o amor, selvagem e livre, não se enfaixem, Com as fitas gastas de um rito infiel.
E quando a madrugada, com seu véu azul-cinza, Desfaça os encantos da noite que se foi, Os touros do amor, com sua alma que guinza, Terão construído um reino que jamais se destrói.
Que importa se a rosa não é a rosa esperada, Se o rio não segue o leito que lhe foi imposto? A paixão tem seu próprio mapa, sua jornada, E encontra em cada par, seu amor mais composto.
Então, que rugem os touros, no seu fogo pagão, Que o duende do desejo dance em seus quadrilhos. Pois o amor verdadeiro, sem lei, sem punição, Floresce onde quer, desafiando os grilhos.
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Os touros do amor
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