sábado, 25 de outubro de 2025

O Canto Último do Galo

Canto.

E o ar se faz lâmina de ouro.

A manhã sobe em meu peito

como um sol que se esquece de morrer.


Mas hoje o canto pesa.

Entre as penas, o rumor do fim

repousa como poeira sobre o trigo.


Sou apenas voz, e já me dissolvo.

Canto — e o som me atravessa,

abre-me o corpo em claridade,

faz de minha garganta um rio de adeus.


Ah, morrer cantando!

Ser instante que desperta e se apaga,

faísca que toca o mundo

sem jamais pertencer a ele.


O dia nasce, eu caio.

E o canto, livre, continua —

sem dono, sem galo, sem morte.



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