À noite, ela dorme
como se voltasse ao princípio do mundo.
Seus cílios tremem levemente,
como agulhas captando sinais do espaço.
É uma menina judia —
filha de livros, pão e silêncio.
Na cabeça, palavras da avó
sobre reis perdidos e velas acesas
em janelas que o tempo apagou.
No sono,
ela flutua entre planetas que giram devagar,
como se tivessem esquecido o motivo.
Há um planeta feito de vidro —
onde todos falam com os olhos,
mas os olhos estão sempre fechados.
Lá, ela caminha entre estátuas que respiram,
e todas sussurram o seu nome
como se ela fosse memória.
Em outro,
as nuvens têm forma de violinos.
As árvores crescem para dentro,
como se a raiz procurasse a alma do solo.
Ali, ela encontra um peixe que fala iídiche,
e ele lhe conta sobre uma estrela
que chora sempre que alguém esquece um sonho.
Ela não fala.
Apenas anda.
Em seu peito, uma estrela de Davi
pulsando como um pequeno relógio lunar.
Não marca horas,
marca saudades.
E quando acorda —
ainda é cedo,
a cidade dorme,
o pai ronca no sofá,
a chaleira ainda não canta.
Ela fica deitada olhando o teto,
como quem voltou de um lugar que não existe
mas que, de algum modo, é casa.
Sorri levemente,
como quem carrega um segredo
que só os planetas compreendem.
E fecha os olhos mais uma vez.
Talvez para voltar.
Talvez para ficar.
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