os suecos —
não são apenas homens e mulheres,
são uma ideia.
um conceito que o frio moldou
como se o inverno fosse escultor,
e a neve, sua biblioteca silenciosa.
olho para eles,
esses nórdicos de olhos azuis,
e vejo não pessoas,
mas espelhos do infinito:
lagoas imóveis,
reflexos daquilo que nunca muda.
talvez sejam uma metáfora.
talvez nunca tenham existido,
e sejam apenas o sonho de um latino,
de um poeta obscuro perdido em um bar
da cidade de são paulo ou buenos aires,
imaginando o norte como um mito:
um labirinto de gelo
onde o tempo não passa,
onde a morte não apodrece,
onde a beleza é apenas disciplina.
as mulheres suecas
são colunas de cristal,
e caminham como se o chão
fosse inventado a cada passo.
seus cabelos são a lembrança
do sol aprisionado,
seus corpos —
a geometria da ordem
que nós, filhos do caos tropical,
jamais alcançaremos.
os homens suecos
parecem repetir-se,
como se um só rosto
tivesse sido esculpido mil vezes
em mármore frio.
mas dentro deles, quem sabe?
há labirintos também,
há dúvidas também,
há, talvez,
um poema de maiakóvski
escondido sob o gelo.
e eu, latino,
poeta que escreve contra a corrente,
admiro e desconfio:
pois sei que a perfeição é máscara,
e que atrás dos olhos transparentes
há também sombras,
como em toda carne,
como em todo povo.
assim, escrevo:
os suecos são uma ficção.
não de um só autor,
mas de muitos —
homero, borges, maiakóvski,
e de cada estrangeiro
que os olha como quem olha
um mapa de estrelas:
frio, ordenado,
mas ainda um mistério.
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