não,
não é ódio.
não é o futebol como guerra,
nem a caricatura de rivalidade.
é amor disfarçado,
irmandade escondida
sob bandeiras distintas,
sob sotaques que se beijam e se provocam.
o brasil é o corpo —
dança, mar, floresta,
explosão sem medida.
a argentina é a memória —
tango, deserto, biblioteca,
a ferida que pensa.
dois povos que se olham
como espelhos:
um vê no outro
o que falta em si,
e, sem confessar, deseja.
as morenas de salvador
sonham com a chuva de buenos aires,
os porteños melancólicos
invejam o riso de recife.
é um amor secreto,
feito de diferenças que se tocam:
mate e café,
tango e samba,
pampas e amazônia.
quem falar em ódio, mente.
quem falar em distância, esquece.
porque entre o brasil e a argentina
há apenas um rio largo —
que mais parece uma veia,
correndo no mesmo corpo.
duas nações irmãs.
duas bocas que cantam,
às vezes desafinadas,
mas sempre a mesma canção.
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