Eles riram.
Riram com dentes de ouro,
com fuzis envernizados,
com crucifixos pendurados no peito
como medalhas de mentira.
Gritaram “Deus!”
mas suas mãos tremiam de dólar.
Beijaram bandeiras
com a boca suja de propina.
Um vendia o país por migalhas,
o outro fugia pela sombra das gôndolas,
Zambelli —
com os saltos afundando em Veneza,
escondendo na bolsa o próprio rastro.
Mas as uvas amadurecem.
E o vento,
ah, o vento —
traz sempre o cheiro
do que está por apodrecer.
O tempo,
essa foice sorridente,
desceu do céu não como vingança,
mas como correção do universo.
Bolsonaro —
faraó de papelão,
messias de palanque podre —
foi trancado não por ódio,
mas por excesso de mentira.
E a Zambelli,
musa da bala perdida,
agora corre como galinha na Itália,
procurando a diplomacia
que não limpa a alma.
Mas a justiça —
essa videira de fogo —
não falha.
Ela tarda,
sim,
porque é paciente como o mar,
mas vem,
como o Deus que vê o que se faz nas sombras.
Agora,
as uvas são outras.
As da vergonha,
da conta bloqueada,
do silêncio que engasga o fanático.
E o vento sopra —
como soprou em Nínive,
como soprou em Sodoma —
um vento de páginas viradas,
de tribunais divinos
e vozes que dizem:
"Aqui, não mais."
Oh pátria cansada,
ergue tua cabeça!
Os ratos roeram tua fé,
mas não teu destino.
E nas uvas da justiça
fermenta o vinho novo
de um povo
que não esquece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário