sexta-feira, 24 de maio de 2019

O filósofo / crônica



Pensava em querer ser filósofo. Era esse o intento de sua vida, e para isso se consagrou. Não irá ler nenhum, porque para ser filósofo, é preciso antes de mais nada, originalidade total.

Sentava de frente ao jardim público, onde inúmeras pessoas passavam. Sentava, fazia atuação de pensador.

- O que ele faz ali -uns perguntavam curiosos.
- É filósofo. -respondia outros. - Está pensando.
- Pensando em que? - queria saber o leiteiro curioso.
- Em tudo, em nada. - respondia o bibliotecário.

Depois fazia sua caminhada matinal. Lá vinha as perguntas. Tinha na ponta da lingua a resposta: "Só sei que nada sei". Pensava depois se isso seria um plágio da fraseologia mundial grega. Se estava pensando, estava funcionando. Afinal, era esse o sonho de sua vida.

Até que viu uma linda loira perto do banco onde sempre ia pensar. Não teve jeito. Se casaram e tiveram dois filhos.

De filósofo passou a ser funcionário público. Em cima da sua mesa dois livros abertos. Um era o Dicionário de Termos Complexos da Filosofia Moderno. O outro, já esqueci da memória.

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