O ônibus segue, velho e ruidoso,
pelo litoral que se estende
como um pano azul desbotado.
O mar, calmo, parece distraído,
fazendo e desfazendo linhas na areia,
sem saber que há gente
cujas linhas de vida
se estreitam até sumir.
No acostamento,
meninos jogam bola descalços
com um entusiasmo que parece
ignorar o buraco no chão,
a bola murcha,
o estômago vazio.
As casas — simples, pintadas de cores vivas —
sorriem na encosta,
mesmo quando o telhado vaza,
mesmo quando o vento de agosto
entra sem pedir licença.
Há uma beleza que não pede desculpas:
o coqueiro se inclina para o vento
como um pescador que cumprimenta o vizinho,
o rio espelha o céu com um cuidado
que ninguém pediu,
as montanhas, de verde espesso,
observam tudo como velhas tias
que viram a vida inteira e ainda se espantam.
E, no entanto,
por baixo dessa luz tão vasta,
há um som abafado —
o rumor de um país que lamenta,
mas que dança,
que chora,
mas que oferece café
ao estranho que chega.
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