quinta-feira, 9 de junho de 2016

Nascimento


E foi assim que surgi:
prata como um vinho,
puro como um copo,
sombrio como um corvo,
imóvel como um aleijado.
E agora que me descobri
vivo, desejo com todas
as forças morrer, cantando
como cantou rimbaud, baudelaire,
como cantou drummond, como cantou
camões.
Quando saltei das raízes
do mar até o litoral tranquilo
me viram e me zombaram
os pequenos ratos literários
que acompanhavam a minha tristeza.
E eu ria também
porque o dia me parecia tão
incompreensível quanto o amor.
Assim nascia quanto tu nascias
amada minha.
Eu não via tua nudez,
nem tu ouvia minha alegria.
Eu nascia em teus olhos
e tu nascia em minha poesia.
Porque esse conto foi escrito
para anunciar que quando nasci
te amei no primeiro dia.
E quando eu morri o dia renascia e
eu renascia em teu grito.
Quando nasci um anjo
reto desses que vivem
na luz me dizia: não
tenha uma vida infeliz,
vai escrever poesia.
E eu fui como um simples
sopro, entre as ruas da minha cidade,
fedido como as conchas mortas,
triste como as pérolas sem vida.

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