terça-feira, 7 de junho de 2016

PRIMEIRA OBSERVAÇÃO


Eu não tenho voz, não, não tenho mãos,
não tenho nada que possa me prender
nesse oceano sem olhos, nessa boca muda
feita de ferrugem, nesse amor abstrato que não tens.
Eu não tenho nada, não tenho vida nem tenho morte,
não sou velho, não tenho barba, não sou jovem,
não sou como aquela fruta que caiu no meio do
caminho só para se encher de insetos e de solidão.
Eu não tenho tribo, nem osso, nem estrela, nem sal.
Por isso quando me viram no meio do campo,
buscando as águas do litoral imenso e cinzento
se assustaram com o meu nome desconhecido de
ser sem vida, de ser feito de lodo e de pó.
Só isso e mais nada.
Obrigado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário