terça-feira, 27 de outubro de 2015

Julien (conto)

O Sentido da vida é que ela termina. 
                                              Franz Kafka


Julien o pequeno, o inconformado. Sentado diante
da janela do seu quarto, Julien o tímido, o solitário,
escreve sonetos em alemão. Depois, com ousadia de
imigrante (julien o grande é judeu) passa a compor
um romance. Julien o cristão, Julien o conformado.
Ouve o sermão dentro da igreja. Sente-se cheio de
pecado. Vontade imensa de se matar. Re-pensa um
pouco. Pensa (como todos os sábios) em alemão:
a vida é muito complicada. Julien o árabe, Julien
sabe quatro idiomas. Vive dizendo que um dia
aprenderá a língua dos anjos, só para traduzir
(do original) o livro da vida. Julien o desesperado,
o hipócrita. Já roubou, já mentiu, já traiu, se ar-
rependeu. Em verdade foi humano, mesmo não sa-
bendo o que isso significa. Julien o casado, 
passa a se masturbar menos e a transar mais.
Se sente bem, trabalha, reclama, contradiz tudo,
questiona a vida, escreve, ganha dinheiro, se mas-
turba, fuma, bebe, ama, chora, volta pra casa
a partir das seis, ora todas as orações possíveis
e impossíveis, ouve ópera, odeia ópera, tem filhos,
a vida segue. Julien lê filosofia, lê Freud, e
lê bíblia. Julien o aventureiro, o perseguido. De
frente da janela do seu quarto, Julien, doze anos
de idade nada sabe da vida que terá. Pensa
na morte. Julien sonha...! 
 (foto: ilustrativa)

Tua lembrança



De fato, eu a amo,
ainda que
não saibas
ou não entendas
o enigma do
amor.
Esse tigre
misterioso
que descansa
em tua boca,
não  é a mim
se não o
ouro de
uma vida
toda.
Saibas, não
saibas,
a mim pouco
importa,
já que sei
que a amo.
As palavras
ficarão, mais
eu não ficarei.
Mas saiba,
na profundeza
desse oceano
misterioso,
que esse amor
não é jugo
nem é prisão:
esse amor é
puro como a brasa
pura da paixão! 
(foto: ilustrativa)

O paraíso



Esse paraíso que não
é mito, a mim se traduz
em teus olhos,
de brilho incontido.
Amá-la é desejá-la,
mesmo dentro desses
jardins secretos de beleza
inominável e pura.
Seu nome são todos os nomes,
mesmo que a melancólica
dor do amor nunca te decifres.
Por isso é pouco eternizar-te
em versos, ou decifrar-te os olhos
de brilho incontido.
(foto: ilustrativa) 

sábado, 24 de outubro de 2015

Poema de amor



A lua, as estrelas e os
outros metais celestes, não
se comparam com a beleza
suave dos seus olhos de
                                      [camponesa...

Amor, preciso cantar e cantar.
Essa é a beleza da 
minha natureza: amá-la e
cantar a suavidade do 
teu corpo astral e cósmico.
Assim mesmo, te amando
sempre e sempre, vou
aprendendo que nada se compara
à tua beleza, ó amada estrelada! 
(foto: ilustrativa)




A chave



Por onde nem o ouro,
nem as espadas, nem as
brilhantes estrelas distantes
ficarão. Sei que não esquecerei 

a chave misteriosa do seu
rosto marinho. Sei que não
estarão para sempre em minha
memória ou sonhos fabulosos.

O beijo que dei em tua boca
não foi sonho, nem prata, nem lírio,
nem angústia: foi amor resplandescente!

Sei disso por que marcaram o
meu amor com as luzes desse amor.
Sei que não te esquecerei. Prometo!
(foto: ilustrativa)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

círculo sintético (pintura)


o apaixonado

Uma nuvem azulada
percorre o céu dos
teus olhos. Perco em
mim o brilho lento
dessas metáforas de
sonhos e fábulas
                      [esquecidas...

Será o mesmo céu,
o mesmo sonho, ou
lembrança deixada no
                           [diário...

Serão essas as palavras
sem significados que arderão
nesse amor puro e iluminado?


(foto: ilustrativa)

o mar

Nessas ondas repetitivas
eu avisto o apocalipse
e um arco-íris. Um sorriso
seria capaz de explicar
tudo o que sinto nas metáforas.
Posso ver e contemplar
os sonhos que nunca tive e
que sempre terei diante do
mar ... O que não significa 
que eu entendo essa 
repetição marinha constante
ou as estrelas que se apagam
no infinito. Só em algum momento
tua lembrança me libertará do vento.



(foto: ilustrativa)




The fire supreme (one cancion in english)



The fire supreme 
in love for day.
The fire supreme
in poetry for day, 
                        [goodbye...

That irony is fire
my poetry, my song.
She contest  my dream.
Sorry moon. Goodbye  night.
.
(foto: ilustrativa)


A peregrina


Tu que caminhas sem
saber. Levas nas mãos
o ardente céu azul, o canto
de algum pássaro ao norte.
Ou ao sul. Não me importa
o teu nome.  Nem os sonhos, nem
os tigres, nem as lendas, só tua
voz calma de chuva tranquila.
O resto, só a estrada
saberá decifrar em nós dois.
(foto: ilustrativa)


Metáfora do Esquecimento

non est oblitus vestri
Livro das Frases Abstratas, V. III-IV

"A vida só pode ser
alcançada por alguns
instantes". Dizia tal
inscrição que olvidei
em mim há anos. Não,
não quero esquecer, donzela,
teu rosto suave, moreno, oriental
no tempo ou na espada...
A inscrição exata, perdão,
já me esqueci, e é rara recordá-la...
(foto: ilustrativa) 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Objetos


Ouro, cinzas, outras coisas
é claro. Menos o sombrio
movimento das águas
do mar.
Sempre o mesmo verso,
repetido como uma sentença
(nunca maldição!). Sempre
o mesmo dia dizia Salomão.
Repetir, repetir, até se cansar.
Se tentar alcançar as estrelas,
é grande o preço que deve
se pagar.
Ouro, cinzas, outras 
coisas é claro. Menos o sombrio 
movimento das águas
do mar...

Meus versos


Esses versos
são outros versos...
Me esquecerão no
relâmpago das
estrelas sem luz.
Só sobrará o pátio
da eternidade,
                           [lamento...
(foto: ilustrativa)

o adeus...


Essa claridade é outra claridade.

Mas dentro da canção eu ouço o
teu nome se perdendo em mim.
Amei, amas-te, foste minha, fui teu.
Tudo aconteceu conforme a dança do
tempo. 
No espelho da reflexão sua alma
me dizia adeus. E eu, como um menino
segurando um tigre, lentamente te disse,
adeus...
(foto: ilustrativa)

Os teus olhos


Nós teus olhos profundos,
supus eu que avistaria a lua
refletida dentro do mar. Há
olhares profundos como os
teus... Olhares celestes,
míticos olhares, profundos
como um espaço, como um
ruído, como uma música,
como um símbolo
esquecido...
(foto: ilustrativa)


terça-feira, 20 de outubro de 2015

para ana estaregui depois de ler chá de jas mim


Não falo muito no poema.

alguns versos já decifraram
o oceano do amor.


mas isso não é problema.
o importante
é o suco e a alegria
de não saber nada
(e 
mesmo
assim)
escrever poesia!




(foto: ilustrativa)

A beleza da noite


Nesse espelho sem face
da noite. Alguém caminha,
outro tosse, outro corre.
Consome-se a lua de tédio.
Que luz era essa que
ardia sem motivo no
relâmpago fluorescente
da esquina da cidade?
Que luz bela essa da
fonte que ardia em
um mesmo ritmo,
em uma mesma nota.
Perdida é a dissonância
das estrelas. Dizem..

A moeda


A vitória e a derrota são
as face da mesma moeda.
Mesmo que a aurora não
brilhe para mim, lá
está ela brilhando para ti.
O tempo, esse consumidor
de nuvens, marca o ritmo
de tudo. Mais o próprio
Salomão soluçou em seus versos
que há tempo próprio
pra rasgar e há tempo próprio
pra coser. O que sem dúvida é
da mesma moeda a vitória
e a derrota...


(foto: ilustrativa

Redação


Não é misterioso o acaso da vida. Mesmo que seja difícil aceitar o agora. O depois nunca estará amarrado com o hoje, embora este dependa essencialmente do agora. Pode ser uma simples questão de filosofia ou de dependência ou de dúvida existencial. Mesmo que tudo isso não signifique nada. Nada de profundo. Nada de maravilhoso. Nada de espantoso para o universo. Ou o agora se torna apenas uma lamentação ou apenas um suspiro ou apenas o momento presente que se passa sem futuro ou retorno. Se nada disso significa nada, poderíamos dizer que só o cosmo contem a verdadeira poesia em sua entranha.

lembrança de ungaretti


a luz pálida
o dia pálido
o frio pálido
a cor pálida

fazendo da dor versos


Coração
Por que dói's?
O mundo sempre
Sangra

solidão


Mirar

o teu rosto


de mar

é menos

do que eu

mereço...

Prólogo de um operário


*
Nessa manhã sem vida
a rima escondida
se camufla na névoa
que envolve a torre
de ferro na ponta do
[morro...

Sou eu quem canta
ou esse pássaro que não
sei nomear?
Sou eu quem escreve
ou é a caneta vermelha
que esta compondo a
canção?

Ai, a vida esconde tantos
segredos dignos de arrepios...

Ai, a vida esconde tantas
metáforas dignas de poesia...

Nessa manhã sem vida
(bela e fria)
engendrando as rimas
da minha poesia!
*
(foto: ilustrativa)

Amarei-te


Amarei-te, porque preciso
amar o fogo dos vossos lábios,
a ternura de vossas asas.
Amarei-te, porque em teus
seios me aqueço de luz e
o inverno rigoroso não me
alcança quando descanso na
morada do nosso amor.

Ó, deixa-me repousar em
teus lábios rubros como o mel,
saciar-me com os teus beijos
puro como o marfim lunar.

Pois amarei-te plenamente
no ardor das palavras. Na
luz desse amor recitarei
o teu corpo aos meus olhos
provando o teu perfume de
rosa marinha.

Amarei-te na luz e na escuridão...
Amarei-te na nuvem branca e na
cinzenta nuvem... Amarei-te na beleza
da primavera e no reflexo do
verão...
*
(foto: ilustrativa) 

Os poemas


Esses poemas me desconhecem...
Buscam metáforas para me
decifrar em lamentos e odes.
Ai, esse mar é um poema completo.
Esses poemas me desconhecem...
Não sabem o nome do tigre,
da luz ou das trevas. Decifram
apenas o momento que passa.
E daí, se quando canto falo
de tudo que muito amo?
Esses versos me desconhecem...
São profundos e largos como o oceano.
Agora que é dia, agora que é outono,
agora que é manhã, tarde, sonho.
Agora canto, enquanto subo esse
mesmo lugar que outrora já deixaste
há tantos anos.
(foto: ilustrativa)

O tempo


Não decifres o tempo inútil dos deuses
Versos de Babilônia - Khalik Ingkit

O tempo, esse segredo
repartido em uma metáfora.
Segue pelo meio de mim mesmo,
e compondo alguns sonhos imagino
o teu sorriso refletido em um espelho.
O tempo, esse ouro valoroso
que se encerra em uma tempestade
de versos. Talvez signifique algo,
talvez nada tenha de significado.
O tempo. Essa caixa de moedas
abandonadas, esse ridículo guarda-chuva
rosa que uso no hoje e no outrora.
Quem sabe dessas coisas fique a 
marca eterna e passageira do tempo?
Quem sabe tudo finde em instantes.
Quem sabe. Apenas canto. O tempo
sabe o que não sabe. Eternamente.

(foto: ilustrativa)

O ESQUECIDO


Não sei quem eu era
antes de despertar. Perdi
o meu reflexo no misterioso
espelho da vida. Sonhei é
claro, com os teus olhos; e nesse
labirinto redondo e azul,
sua face ardia como uma
estrela se apagando em chamas.

Não deixei nada escrito 
para lembrar-me da
profunda onda, da sombra da aurora.
Assim que despertei, fui compondo
a figura de um novo tigre de esperança.
E uma face radiante ardia dentro do meu
                                                        [coração.
(foto: ilustrativa)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Zahir


Nas estepes do Cazaquistão
busquei o teu rosto moreno
na suave paisagem dos ventos


                                               [que passavam...     


Estavas lá, Esther, como
um sonho eterno que não se
finda: em teus olhos pude
mirar a beleza da vida.
Agora descanso em tal leito
repousado de verde e azul:
Abençoado seja Aquele que nos

uniu na beleza do amor.
*
(foto: ilustrativa)

A anti-metáfora


Outra vez cantarei o amor
e repartirei o doce mel do
outono gélido em teus lábios.
É outubro, nesse mundo imaginário,
e sei que longe dormes,
a amada e o seu canário.
Esse amor que cantarei
é o reflexo do mesmo amor
que já cantei em variados
espelhos, labirintos, moedas:
só o meu sonho tentou significa-lo!

(foto: ilustrativa)

Enigma


Já não serei mais aquele
que cantava na estrada,
sonhando com os tigres e as taças.
Me perdi nas estrofes enigmáticas
da vida, e percorrendo fui
a frente de minha sombra.
Não descrevi para os galhos mortos
o meu nome de silabas tão con-
fusas: fui o presente d vento e
o ruído das águas na tarde.
Aquele que se perdeu se foi
para sempre na aurora confusa.
E amanhecendo nas páginas douradas
alguém me saudou: eis aquele
que cantava na estrada...

O caminho


Em uma folha se contém
todos os segredos do universo.
Para mim basta uma só
palavra recitada.
Quem celebrava na noite
escura os segredos perdidos
dentro do tempo veloz?
Uma folha apenas, me disseram,
contém todos os segredos do universo.
E na possibilidade da existência
meditei silencioso no ruído das cigarras.
Para mim basta uma só
palavra recitada. Por isso
sigo a minha estrada!

O sonho


Eu repeti o sonho
de uma eternidade; mas
vagava sem a rosa e
sem as espadas das batalhas.
E sem saber despertei
lúcido e trêmulo, guiado
pela luz e pela sombra da noite.
Gritei então o teu nome angelical
na aurora, e a resposta obtida
veio das águas escondidas.
E despertei, sorrido e chorando,
sem saber o motivo
celestial do símbolo imaginado
de tal enigmático sonho...

A carta


Façam de mim o que o
tempo não poderá fazer
jamais. Deixem-me apenas
sonhar com o dia e a noite.
Quando se recordarem de outro
sonho, poderei ser aquilo
que a chama da vida humana
não me permitiu. É claro que
é bom chorar de amor; melhor
que isto é viver intensamente
as metáforas colhidas no caminho:
só ali serei aquilo que sempre soube!

Noite sem estrelas


Eis que eu vo-lo tenho predito.
Mateus 24, versículo 25

O céu dos meus sonhos
eram mais claros que
a cinzenta moeda do
reflexo dos tigres.
O amor era aquilo
que eu sabia que era
enquanto poeta. Nessa
obscura claridade cinzenta
um sonho é menos do que tudo.
E o que resta na noite
são as palavras, as espadas,
os vendavais distantes e a
distante amada...

dois poemas

INSTANTES

Quero lembrar do teu rosto. E 
talvez ser feliz por alguns instantes. 
Não nego que os teus olhos
tem o brilho das safiras azuladas.
Um dia quando tudo era sonho
o teu rosto brilhava como fênix.
Quero lembrar do teu rosto. 
sorrir para o bosque verde enquanto o
vento calmoso passa... 



Um dia dentro de um dia

Ruas quietas, silenciosas estrelas,
moedas antigas, livros, palavras.
Tudo carregavas no olhar em uma
lágrima desperdiçada na sombra
da aurora. Disseram para mim:
-Quem és, compositor?  Só pude 
responder: Sou aquele que canta!
Canta os luares, as noites, as bravias
tempestades. Os dias que passam
chegam. E no momento em que
chegam a melodia expande seu
próprio canto. 

(foto: ilustrativa)