E tudo isso me envolve, tudo me assombra.
Menos uma coisa: a matéria da raiz da sua boca.
A matéria pura e viva dos teus lábios, só.
E tudo o que ele envolve torna-se em ouro.
Ouro semelhante a felicidade eterna, felicidade
Que se mistura aos cantos dos pássaros e dos grilos.
Por isso é impossível não cantar os vossos lábios,
Lábios de sereno, lábios de rios profundos e bifurcados.
Por que os lábios da tua boca se bifurcam em dois: cima e baixo.
E me disseram antes de vê-la, antes de conhecê-la,
Que nenhum tipo de encanto tinhas.
Mas como eu, vinhas da terra plena, cheia d' gado silencioso.
Então eu te vi, morena e viva, como a planta mais bonita do jardim.
E comecei a cantar os mais puros e estranhos louvores.
Passei a compor hinos, odes de exaltação aos teus seios.
Seios de flores, de ervas verdes,
Seios que poderiam ser a Amazônia inteira, por completo.
E outros escutaram o meu canto de vinho, e se transtornaram.
O rubro do calor dos nossos olhos o consumiam por dentro.
Tu e eu, amada, feitos de silencio e felicidade
Caluniávamos a miséria da existência pífia.
E foi se passando o dia. E passou-se a noite. E a tarde e a manhã
Se consumiram uma a outra.
E eu te esperei dentro de uma fornalha acessa,
E tu, carregando os sete cristais puros da paixão, me esperava.
E tudo isso me envolve, tudo isso me inquieta.
Essa sombra radiante dos teus cabelos, essa
Luz serena e profunda e física e viva do teu sorriso de pantera.
E tu foi inscrita no navio de minha predileta companheira.
E eu fui como um navio, percorrendo o porto do teu corpo
Profundo e silencioso como a montanha
Que tu e eu amamos em segredo...
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