quarta-feira, 30 de outubro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
CORTADOR DE CANA
CORTADOR DE CANA
Não sabe o sol que me queima a pele
O quanto me dói segurar o facão?
Não sabem essas nuvens brancas,
Pálidas e infantis, o suor que me desce,
E o quanto me dói a mão
Ao segurar, segurar e brandir,
Brandir e segurar com força o facão?
Já foi pesado um dia a caneta,
A caneta que escrevia versos de amor.
E o facão corta a cana sem piedade.
Seria, pura ironia, a cana de açúcar
Um demônio digno de ser cortado?
Penso em Candido Portinari, penso nas
Lindas baianas feitas por Carybé,
Penso no Cubismo de Picasso,
Penso em Kandinsky e penso
Também em Miró e suas cores.
Não saberão nunca esses pintores
Que eu um dia fui um guerreiro,
Cortador de cana entre outros
Guerreiros, pobres, belos, negros,
Brancos e pardos, lutando para
Ganharem o pouco que o diablo
Branco (ladrão e enganador)
Nos dava em troca de nosso suor.
Não sabe o sol que me queima a pele
O quanto me dói segurar o facão?
Não sabem essas nuvens brancas,
Pálidas e infantis, o suor que me desce,
E o quanto me dói a mão
Ao segurar, segurar e brandir,
Brandir e segurar com força o facão?
desconfortáveis versos
desconfortáveis versos
REUNIÃO
Veio o vento, e a terra se levantou,
estrelas surgiram pelo céu pálido
e teu rosto meditava sobre a morte.
Era um sonho dentro de um sonho.
Uma espada dentro da bainha.
Um escudo enferrujado no castelo.
O dragão cinzento no leito dourado,
onde outrora repousou uma Hydra,
sonha com fogo e morte,
assim como você,
que sobre a morte medita.
O CORVO
Eu vejo na minha mente
o corvo da minha imaginação.
Nobre, belo, tal corvo
range com o bico uma canção.
No sonho (eu sonho com ele)
ele e eu nos confundimos num só.
O corvo é meu pai e geme,
e eu canto uma canção.
Deu meia-noite no ponteiro,
o relógio badalou e sacudiu.
O corvo abriu as asas e partiu.
E uma pomba de meu peito nasceu.
ELA
Cantei uma canção antiga, há muito tempo,
eu era jovem, sem barba,
e meus olhos viram a beleza dela,
a beleza de uma máscara de ouro.
Chorei diante de tanta beleza,
incandescente estrela ardia
em suas nebulosas narinas,
em seus seios de maçã.
Quem disse que a velhice faria
esfarelar esse amor que carrego?
Talvez hoje você grisalha e surda
não escute minha voz e nem se lembre
que um dia meu coração foi seu.
Não tem nenhum problema.
Nem cruz divina, nem martelo de deus nórdico,
farão eu esquecer a beleza eterna
a beleza eterna e bela de seus olhos.
O INVERNO
O inverno, essa montanha,
o grito do vento sobre o gelo,
a dor de um abrigo e um
cachecol jogado no chão.
O inverno, essa montanha,
a lágrima dura pelo rosto,
as vozes de outros povos,
uma pintura inacabada.
Em vão, o inverno, essa montanha,
o sono acaba de chegar,
a noite se espraia pelo céu
e tinge o artista e o inverno se foi.
entusiasmo
entusiasmo
MÁGOA SECRETA
Outro dia - e o que fiz se não nada,
Pintei, gritei, falei, e depois a fome,
Esse fato estranho do corpo
Me fez doer e roncar o abdômen.
Deveras pensar nessa existência.
Óh frio da vida, essa amargura tanta.
Melhor seria ter um sopro de esperança,
E não ser esse ser magoado por dentro.
Sinto-me só, assim como todos,
E só caminho entre tanta gente.
Apedreja minha alma, ó Deus ausente.
Sinto-me só, e assim passo por
Entre pessoas e suas sombras.
E minha sombra diz- chora, sonha!
VERSOS DE UM POETA EMBRIAGADO
Veio a mágoa, e eu eis aqui em sonhar,
Traz do bar amiga outra garrafa,
Porque no copo irei tristemente escarrar
Minha mágoa que não passa...
Ser poeta não é tão triste,
Assim, ser essa criatura que caminha.
Pensar assola toda gente que pensa,
E fico a meditar nessa mágoa estranha.
Bebe comigo, companheira, meu café
Com leite que negas. Celebra a cruz
Que ao rei dos judeus para sempre prega.
Comigo, amiga eterna, vamos ser cinzas,
Pó, esqueletos enterrados sobre a terra.
Quem me dera existir e findar igual a primavera.
ELEGIA FINAL
Quero morrer feliz. É possível a vida
Rir dessa irônica piada que eu peço.
E nisso, nesse tempo obscuro eu
Que sem saber de nada o verso martelo.
Faço surgir desses dedos o estrangulo.
Ah, vou fazer sorvete igual a escravo.
Deixa deus rindo disso que ele faz
De um homem que ama sem ser amado.
Outros se vão. Eu fico morto.
Morto, porém respirando, e fora
Da tumba ainda seco eu me movo.
Esse frio que sinto pela alma,
É um lamento que não se acaba.
E a vida é isso, tormentoso anátema.
POEMAS PARA CONTAR PARA ALGUÉM OU PARA NINGUÉM
POEMAS PARA CONTAR PARA ALGUÉM OU PARA NINGUÉM
1
Vou escrever por escrever, sem ter
menção alguma de glória ou prémios.
Vou escrever para molhar as palavras
com as águas e os sulcos de minha boca.
2
O vento que senti um dia pelos cabelos
cabelos grandes que eu tinha me
deram a esperança de existir um
Deus silvestre que pudesse me
dar uma maçã para matar a minha
eterna fome de felicidade.
3
Os grilos me irritam. Há outras coisas também
nesse mundo que me deixa grilado:
o barulho, pessoas que falam de mais,
o calor insuportável, queimaduras nos dedos.
Ai de mim, porque fui nascer poeta?
4
A lua é um mistério em cima do céu.
Eu não me importo com nenhum mistério.
Sejamos francos, não quero saber
o sentido da vida, não tô afim de saber
de onde Deus vem, não quero ser santo,
detesto gente chata. O mais chato
é o chato que escreve sobre o mistério.
Então, eu sou esse chato do mistério.
5
O mundo pode ser um cavalo,
o mundo pode ser uma pulga,
o mundo pode ser drummond,
o mundo pode ser uma cigarra,
o mundo pode ser uma árvore,
o mundo pode ser um livro,
o mundo pode ser uma poesia,
o mundo pode ser um nada,
o mundo pode ser, eu acho.
6
O sol nasceu, o galo cantou,
a janela fechada esconde rostos de pessoas que eu não conheço.
Meu Deus, dentro de um ônibus eu nem sei o nome do motorista
que me leva para o serviço.
Isso dá medo.
7
Estou tomando chá,
e se eu pudesse gostaria de um miojo.
Será que isso é poesia?
Etâ vida besta meu Deus.
8
Meu sonho era ser rico, muito rico, podre de rico.
Fiz a vida gargalhar com isso.
Nasci sem roupa, sem dentes, sem cabelos e chorando.
E, supra suma da humilhação: meu pinto era minusculinho.
9
O passarinho que cantou apaixonado pela rosa pousou suavemente em seus espinhos.
10
esse é o poema final.
o poeta
move o poeta seus
dedos de profeta
parando o sol da lua
parando a lua do sol
da imaginação profunda.
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
INTIMIDADE SOLITÁRIA
INTIMIDADE SOLITÁRIA
Resplandece a celeste superfície.
Dorme soturna a natureza sábia..
AUGUSTO DOS ANJOS, GRANDE POETA DA PARAÍBA
Quem me dera sumir e não ser
Enterrado junto da tumba de meus avós.
E ali morto sem respirar
Tombar no escuro infinito dos que se vão...
A vida é uma coisa tão tortuosa,
Uma tristeza que alegra o coração.
Viver é morrer cada dia sempre,
Porque é a única razão que tortura
A alma delicada desses Adãos
Que de um lado ao outro marcham
Em carros e ônibus de cima a baixo.
Que tragédia bela essa época.
Quem me dera não ser para nunca mais
E esquecer que um dia amei demais.
VERSOS DE UM CACHORRO
VERSOS DE UM CACHORRO
Já escrevo sem inspiração esse
Verso monstruoso que me pulsa.
Vândalo é meu coração que
Assalta os desejos ocultos.
Chora alma, suas angústias,
A esse deus imortal que te assiste,
E que de certo ri desses tristes
Demônios que assolam o mundo.
Escreve poeta, medita nessa
Catástrofe genial que é a humanidade,
A rainha ciência que gera a cura
E outro vírus mata o indefeso.
Meu coração é um grande percevejo
Que morre sem entender que existiu um dia.
CONSCIÊNCIA QUIETA
CONSCIÊNCIA QUIETA
Vou ir dormir, já é tarde,
E me pesa a consciência humana.
Sabendo que sou um esqueleto
Tecendo palavras desumanas.
Ah, sinto o pálido bafo da morte
A acompanhar meu gozo sexual.
Quem pudera não existir,
Não adoecer, não ter nenhum mal...
Dilúvio desse meu nirvana sonhado,
Eu que nem vida tenho para escrever,
Escreverei um novo testamento para
A humanidade cruel toda ler.
E saberão que esteve alguém que entendeu
Toda a ciência maravilhosa do sofrer.
VERSO INÚTIL
VERSO INÚTIL
Vamos, tece outro verso inútil
Para saudar a inutilidade dessa vida.
Seja o canto dessa inútil existência
Do seu respirar dessa tosse maldita.
Celebra o que te cabe, ó humana:
Doenças, dores, pobreza e morte.
Quererá outra coisa além da sorte,
As riquezas do rico em sua tumba não cabem...
Ah, pedaço de vida tola e inútil,
Que se locomove e pensa igual uma barata.
Senta e medita: a sarjeta de uma tumba
Será um dia tua derradeira casa.
Não esperneie nem se entristeça.
Assim é a vida: um belo antro de asneiras.
UMA DEDICAÇÃO AO URUBU
UMA DEDICAÇÃO AO URUBU
Tenho a sensação de que
Não fiz nada: tanto pintei,
Tanto pensei, e nada...;
Minha alma gelada sente
O vazio da existência por si
Mesma. Só, sozinho, quero gritar!
Nenhum deus ausente
Virá escutar essa agonia humana.
Assim como pisei em uma
Pequena formiga que me mordia,
Assim serei pisado pela vida...;
Não restará nada de mim:
Osso ou carcaça. Me roa o
Urubu em sua festa boa.
domingo, 27 de outubro de 2024
sábado, 26 de outubro de 2024
deux vers en français
deux vers en français
1
Je me suis réveillé dans ce monde
et j'ai regardé la pluie
le vent est passé
et une grenouille a sauté
2
rien qui puisse
fais-moi oublier
ton sourire
ivoire noir.
la sombra
La sombra
La sombra de la lluvia
se levanta en mi dulce patria,
Brasil, llena de agua
desbordo mis versos.
Mi abuelo, héroe judío-holandés,
Mi abuelo, héroe judío-holandés,
duerme en su sueño eterno.
Y estoy escribiendo estos versos
sobre la luz de las velas modernas.
Mis libros me acompañan
y sueño con hermosas y eternas polillas.
sin saber si es un sueño
sin saber si es un sueño
- me senté en el antiguo muro japonés
y comencé a llorar recordando a chiang tzu
y su hermoso sueño,
sin saber si era una mariposa o un sabio chino.
Y hoy duermo
sin saber si soy poeta o guerrero,
y me despierto como pintor.
ESPAÑA
ESPAÑA
soñé con tu cara
¡Oh España grande de mis antepasados nocturnos!
Tierra cristiana y morisca
Tierra judía de mi pecho holandés
y dentro de tu alma
Me desperté
España melancolía
de días y oro,
de tigres y nuevos mundos,
Ay España, déjame
besa en usted estos míos
versos arenosos.
yo
Yo
a la luz de la mañana
y le hablé a la morena
sobre fuego y agua
dormí lejos de mi patria
dormí lejos de mi patria
lleno de nostalgia y
finalmente me desplomé
por dentro. de un sueño
y ahí, rey y payaso oscuro,
y ahí, rey y payaso oscuro,
volví a reír
ya muerto de soledad
y desesperado por los dioses de otras personas.
ya muerto de soledad
y desesperado por los dioses de otras personas.
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
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