quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Ela chega, ela não chega



Ela chega, ela não chega,
ela vai chorando pelos campos,
ela vai sorrindo pela rua,
passando pelas flores,
vivendo como um pássaro sem cor,
morrendo como a lua a cada noite,
carregando os ventos nos olhos,
as lágrimas secas do mar nos cabelos,
ela vai, ela não vai, ela segura nas mãos
o sol que queima o amor com sete taças,
ela chega, ela não chega,
a porta está no coração dela como uma
armadilha cheia de sonhos,
mais ela não entra, ela não senta,
ela não sorri pelas pedras, nem pelos portos,
ela é livre, ela é presa, ela é pequena, ela é grande,
nos olhos escuros o lilás do mel nos lábios,
nas mechas os lírios ocultos da existência do amor,
nas coxas, a temperança fria da neve, o oculto ardor,
ela carrega nas pernas a cintura das américas,
ela leva no perfume os pequenos insetos,
ela não vê a sombra, ela não observa a luz,
ela chega, ela não chega,
não tem casa, nem carro, nem fumaça nos peitos,
nem nas nádegas carrega o oceano sem mistério,
ela canta como um rouxinol a beira da estrada,
tens mãos, elas não tocam, tens pés, não sentem
nada a não ser a praia violenta do amor, frio e calculista.

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