domingo, 14 de maio de 2017

Ode aos meus papéis



Meus papéis
meu silenciosos
papéis,
arrumados,
desarrumados,
negros de caneta,
cheios do branco
o branco puro do açúcar.
Meus papéis
cheios de traças
e de solidão e de
pó, meus papéis
largados e rasgados,
molhados e recém
descobertos
como papiros
sagrados enterrados
no deserto.
São e não são
a minha alma,
tem e não tem
o meu ser.
 Como
um molusco
carregam minhas
secretas palavras
os meus desejos mais profundos,
as odes, os lamentos, as crônicas
dispersas de um viajante, de uma pátria
de um pequeno poeta amaldiçoado de poeta,
cheio de risos e prantos.

Meus papéis,
meus sonâmbulos papéis,
carregados de areia, de orvalho, 
de estrelas,
de cidades.
Meus papéis,
uns dizem que não valem nada,
para mim valem tudo.
Valem sombra,
valem mel, valem 
canções inteiras.
O sol e a lua estão aqui
assim como a morte,
assim como a foca,
o pelicano, o elefante,
a pequena cidade da Mongólia,
o Brasil imenso como uma mariposa,
todas as pátrias latino-americanas.
Tudo, tudo, 
ali estão
dentro da chave
dos meus papéis
do meu coração.

Por isso 
não estou ali
e por isso ali
estou para sempre.

Obrigado.

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