Mariposa azul: ai, que ar, ai que dor, minhas asas tão cansadas estão cansadas de tanta falta de amor.
Cigano: Que reclamas mariposa? Que reclamas, que vais voando?
Mariposa azul: De norte em norte, de sul em sul, de nome em nome, de prata em prata, de espelho em espelho, de estrela em estrela, de sorriso em sorriso.
Cigano: E estás tristes por isso?
Mariposa azul: Só fico triste quando a lua cai em cima do meu umbigo.
Cigano: E teu coração de lodo?
Mariposa azul: Meu coração é de prata.
Cigano: Acreditas na morte?
Mariposa azul: Quanta interrogações sem sentido. Quantas vidas sem sentido. E quantas mortes sem sentido. E para que existe o sofrimento? E para que existe as noites estreladas? Amo apenas as flores que o E’terno me deu para cheirar nas madrugadas.
Cigano: Mariposa azul, não reclames do sol, nem da chuva, nem do frio, nem da tristeza, nem das igrejas, nem do mel, nem das abelhas ciumentas.
Mariposa azul: Ai meu Deus, que estou triste como o gafanhoto!
Cigano: Mariposa, não decifra teus olhos o mar e a areia?
Mariposa azul: Só quero voar nua pelas constelações, e ser tão feliz como uma toupeira.
Cigano: Lua de prata, lua de fogo, lua de morto, lua de lodo, a mariposa chora seus amores tristes.
Mariposa azul (em protesto): Nunca chorei nada. Não tenho lágrimas para chorar, nem quero chorar e tenho raiva de quem chora. Em toda hora me confundem, em toda hora dizem que sou uma borboleta, dizem que sou um boi, dizem que eu sou uma colher, uma faca que pode cortar um touro, uma espada. Dizem por ai que só sei cantar, mais não trabalhar. Eu não trabalho. Eu não trabalho porque a morte me dói.
Cigano: Ai, amor, ai amor de mariposa azulada. Ai amor, ai amor de madrugada de mariposa azulada. Ai amor, ai amor de mariposa azulada estrelada na madrugada. Ai amor, ai amor, que se findou.
O cigano levanta-se e vai embora. A mariposa alça voo e canta:
Mariposa azul:
Dá o meu coração cigano
Dá o meu coração cheio de engano.
Trás um girassol para mim, trás o
Vento andaluz, trás a minha amada japonesa,
Trás uma estrela e uma baleia.
Serena noite, sereno dia.
Quanta tristeza e quanta poesia!
Ai, que ar, ai que dor, minhas asas
tão cansadas estão cansadas
de tanta falta de amor.
Dá o meu coração cigano
Dá o meu coração cheio de engano.
Trás um girassol para mim, trás o
Vento andaluz, trás a minha amada japonesa,
Trás uma estrela e uma baleia.
Serena noite, sereno dia.
Quanta tristeza e quanta poesia!
Ai, que ar, ai que dor, minhas asas
tão cansadas estão cansadas
de tanta falta de amor.
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