sábado, 1 de outubro de 2016

O amor e a rua

para c.t

Numa ruma talvez
o amor viu-me viu-nos

atravessados por sombras
de árvores, não-marinhas.

E que nunca esqueci de
ver dentro de ti o poema

nascendo da calçada, do
asfalto, da nuvem alta e

descalça. Da voz não
ocidental, nem hispânica.

Voz mais de açúcar
para quem tem alma cigana.

E só de tê-la ali em mim
contigo dizendo "mais quê

chiclete", tão grudento
que lembra algodão agüado.

Refinando o abraço ou
seja lá o que seja o aperto

imóvel, parados como quê
sem saber-se tempo, roman

tizando a rua, mais
quebrada que o sofrimento.

Dando a cambiar à rotina
do próprio lugar sem laudatório,

seguindo o prévio
desprendimento de quem

viu e viveu-nos
o amor e a rua em ti

sabendo-se tanto e pouco
ao mesmo tempo.

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