quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Tikun Olam

No Brasil, dizem,

somos poeira de estrelas,

um punhado de areia no vento,

fragmentos dispersos como ossos antigos

à espera de uma arqueologia impossível.


Chamam de “comunidade”

— mas que comunidade?

São mesas separadas em cafés distantes,

são nomes que nunca se encontram nos registros,

são velas acesas em cozinhas anônimas,

sem sinagoga, sem coro, sem rabino.


O tikun olam — reparar o mundo —

aqui é consertar o nada

com mãos vazias.

É procurar o minian

e descobrir que nove estão dormindo

em cidades diferentes,

e o décimo esqueceu o hebraico.


Ironia suave, cruel, inevitável:

não há muralha em Jerusalém tropical,

só varandas com roupas estendidas

e um silêncio de exílio sobre o Atlântico.


E ainda assim,

cada judeu disperso é um eco,

uma semente errante,

um acorde secreto no coro inexistente —

como se o próprio Deus risse baixinho

de nossa pequenez infinita.



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