No Brasil, dizem,
somos poeira de estrelas,
um punhado de areia no vento,
fragmentos dispersos como ossos antigos
à espera de uma arqueologia impossível.
Chamam de “comunidade”
— mas que comunidade?
São mesas separadas em cafés distantes,
são nomes que nunca se encontram nos registros,
são velas acesas em cozinhas anônimas,
sem sinagoga, sem coro, sem rabino.
O tikun olam — reparar o mundo —
aqui é consertar o nada
com mãos vazias.
É procurar o minian
e descobrir que nove estão dormindo
em cidades diferentes,
e o décimo esqueceu o hebraico.
Ironia suave, cruel, inevitável:
não há muralha em Jerusalém tropical,
só varandas com roupas estendidas
e um silêncio de exílio sobre o Atlântico.
E ainda assim,
cada judeu disperso é um eco,
uma semente errante,
um acorde secreto no coro inexistente —
como se o próprio Deus risse baixinho
de nossa pequenez infinita.
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