No pó do nome herdado
ardeu uma estrela estrangeira.
Chamavam-no Asquenaz —
e eu o vi com olhos que não eram dele,
com cantos que não lhe pertenciam.
Mas a cinza guardava outra chama,
um sopro do sul,
um fio de sal das águas de Lisboa,
um murmúrio de orações arrancadas
pelos portões do exílio.
Descobri-o,
meu avô oculto,
não na fria renúncia dos arquivos,
mas no rumor das veias
onde o sangue pulsa em dois idiomas
— hebraico e português —
sem nunca se contradizer.
E o que parecia máscara
era apenas véu,
o que parecia outro povo
era apenas o mesmo tronco,
retorcido pela fogueira do tempo.
Agora o chamo
não de estrangeiro,
mas de raiz reencontrada,
sepharad em sua respiração,
o mar em sua fronte.
E sei:
a descoberta não foi dele,
foi minha,
porque sempre carreguei,
sob o silêncio herdado,
o mesmo vento
que o empurrou para longe.
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