segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Descoberta

No pó do nome herdado

ardeu uma estrela estrangeira.

Chamavam-no Asquenaz —

e eu o vi com olhos que não eram dele,

com cantos que não lhe pertenciam.


Mas a cinza guardava outra chama,

um sopro do sul,

um fio de sal das águas de Lisboa,

um murmúrio de orações arrancadas

pelos portões do exílio.


Descobri-o,

meu avô oculto,

não na fria renúncia dos arquivos,

mas no rumor das veias

onde o sangue pulsa em dois idiomas

— hebraico e português —

sem nunca se contradizer.


E o que parecia máscara

era apenas véu,

o que parecia outro povo

era apenas o mesmo tronco,

retorcido pela fogueira do tempo.


Agora o chamo

não de estrangeiro,

mas de raiz reencontrada,

sepharad em sua respiração,

o mar em sua fronte.


E sei:

a descoberta não foi dele,

foi minha,

porque sempre carreguei,

sob o silêncio herdado,

o mesmo vento

que o empurrou para longe.



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