Tenho névoas de mágoas nos olhos,
como se o sertão tivesse lavado minha alma
com chuva fria e silenciosa.
Vejo o vento arrastar folhas secas,
e cada folha parece levar um pedaço de esperança.
O sol nasce, mas não ilumina o coração,
só aquece a pele e denuncia o vazio.
O galo canta distante,
e seu som atravessa o quintal de pedra e poeira,
batendo na porta do meu peito
onde guardo dores antigas,
nomes que já se foram, abraços que o tempo levou.
As árvores tortas se inclinam sobre mim,
e sinto que o mundo inteiro
curvou-se para observar minhas mágoas.
Mas ainda há um fio de luz entre os galhos,
um sopro de manhã que insiste em entrar.
O barro do chão cheira a memória,
e cada passo é marca do que fui,
do que perdi, do que deixei para trás.
E sinto que as mágoas não me pertencem só,
mas são testemunhas de uma vida que se esforça para existir.
Há mãos invisíveis que ajeitam a vida,
mesmo quando tudo parece ruir.
O suor do trabalho, a paciência do dia,
o cântico das aves no fim da tarde:
sinais de que Deus observa
e recompensa o coração fiel.
E então compreendo, apesar das névoas,
que a tristeza pode ser purificação,
que a dor não é castigo, mas lição,
e que aquele que trabalha com fé e humildade
colherá a paz, ainda que tardia,
como o milho que nasce depois da seca.
Tenho névoas de mágoas nos olhos,
mas agora sei que elas passam,
como o vento que limpa a poeira do sertão.
E no fundo do coração,
resta a certeza de que a graça divina
é fruto do trabalho, da paciência e da fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário