terça-feira, 9 de setembro de 2025

Tenho névoas de mágoas nos olhos



Tenho névoas de mágoas nos olhos,

como se o sertão tivesse lavado minha alma

com chuva fria e silenciosa.


Vejo o vento arrastar folhas secas,

e cada folha parece levar um pedaço de esperança.

O sol nasce, mas não ilumina o coração,

só aquece a pele e denuncia o vazio.


O galo canta distante,

e seu som atravessa o quintal de pedra e poeira,

batendo na porta do meu peito

onde guardo dores antigas,

nomes que já se foram, abraços que o tempo levou.


As árvores tortas se inclinam sobre mim,

e sinto que o mundo inteiro

curvou-se para observar minhas mágoas.

Mas ainda há um fio de luz entre os galhos,

um sopro de manhã que insiste em entrar.


O barro do chão cheira a memória,

e cada passo é marca do que fui,

do que perdi, do que deixei para trás.

E sinto que as mágoas não me pertencem só,

mas são testemunhas de uma vida que se esforça para existir.


Há mãos invisíveis que ajeitam a vida,

mesmo quando tudo parece ruir.

O suor do trabalho, a paciência do dia,

o cântico das aves no fim da tarde:

sinais de que Deus observa

e recompensa o coração fiel.


E então compreendo, apesar das névoas,

que a tristeza pode ser purificação,

que a dor não é castigo, mas lição,

e que aquele que trabalha com fé e humildade

colherá a paz, ainda que tardia,

como o milho que nasce depois da seca.


Tenho névoas de mágoas nos olhos,

mas agora sei que elas passam,

como o vento que limpa a poeira do sertão.

E no fundo do coração,

resta a certeza de que a graça divina

é fruto do trabalho, da paciência e da fé.





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