Ode ao amor finito

Os nossos olhos
se cruzaram em
um corredor frio,
quando nossas almas
separadas se
contemplaram
como um beijo
eu era teu gavião
e eras minha mariposa
roxa.
Ai, quando o amor era
uma janela aberta,
e você me amava
como se o amor
fosse algo real,
e não fosse uma
invenção humana
para a reprodução.

E mesmo assim
nós dois, eu, macho
como um caranguejo,
e tu, femeá como uma
leoa, engarrafados
como nuvens,
transbordamos de
beijos e prazeres.

Mesmo assim,
eu era mais tolo
que uma carta de amor,
e meus olhos não tinham
sossego, e minha respiração
era menos do que uma baleia
cheia de angustia com prisões
feitas de palavras, mel, alcachofra.

Me amavas,
é claro, porque eu te amava,
e meu ódio era teu ódio,
e o meu amor era o teu amor, e nós dois
como duas gotas de chuva,
no sofá, na colher, na imaginação.

Tentei alcançar alguma coisa,
mais não era amor, nem cebola,
nem amizade, nem esgrima,
nem fenix, nem borboleta,
o que tínhamos um pelo outro.

O que era o que sentíamos?
O pulso do oceano nos nossos olhos,
a fumaça do fogo transbordando o
coração, a semente de um carvalho
tombado pela chuva, que se foi
como o nosso amor

que se encerrou sem adeus,
e sem despedida, como a vida.