terça-feira, 28 de agosto de 2018

Adolescente

Consigo escrever em qualquer lugar, em qualquer momento. Mais preciso de silêncio. Não consigo escrever com barulho. O barulho me inibe. E é um fato curioso isso, porque na escola, cercado de uma multidão, que mais parecia um bando de papagaios (com todo respeito a tais aves), eu conseguia me sentar, e com a caneta na mão e o caderno aberto,  escrever e escrever, como se fosse uma cachoeira de palavras, uma geleira em forma de dicionários, escrevendo versos e mais versos. Hoje não, infelizmente. Hoje preciso do mais absoluto silencio. Preciso ser o silêncio, carregar o silêncio, comer o silêncio. Não posso vendê-lo, não posso mercadeja-lo com ninguém. Ele precisa ser meu, egoisticamente, e isso, apenas para que o poema, essa força vital da literatura, brote. Sem silêncio não componho. Talvez se eu fosse surdo, iria escrever excelentes odes, magnificas elegias, vastos compêndios de sonatas. Só que a surdez nada tem que ver com o silêncio. O silêncio é o ato do só, do solitário. Não, o silêncio do poeta não é uma masturbação, não é um sentar-se em frente da tv e deixar ser levado como um imbecil por notícias de assassinatos inúteis, não. O silêncio que me refiro é o silêncio nascente da dor e da alegria. Preciso de silêncio. Porque ele vem com Luz e com Trevas.  

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