quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Questionário


Para onde vou?
Não é dia de morrer,
é dia de nascer,
dia de cantar.
Por isso leio Maiakóvsky,
por isso estou segurando
as lágrimas vivas de Rimbaud.
Por isso todos os poetas
me dão conselho quando escrevo:
Góngora, e sua sábia e difícil virtude,
Neruda, com o seu mar feito de espuma e comunismo,
encontro no caminho as rosas de Gabriela Mistral,
apanho os espinhos de Adélia Prado,
e por todos os muros brasileiros
há um sol vago que lembra Drummond,
mais eu insisto em gostar mais de João Cabral.
Vou vagando por folhas e vejo Marly de Oliveira,
e ali estou conversando com Mallarmé,
suando com Kafka e acordo como uma barata
recitando os salmos de Davi de trás para frente,
meus companheiros, escritores machucados,
esquecidos pelos tempos, nas velhas livrarias
que não são suas, queimados nas estantes,
envelhecidos pelas aranhas que tecem
suas teias para vender aos sábios chineses.
E ali, no meio de tudo, estou eu, tecendo
o que posso tecer, minha pedra, minha madeira,
meu pobre poema, pequeno e grosseiro,
meu único poema, meu filho sem nome.

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