quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Morada marinha


Morar no mar,
por que não?
por quê sim?
Quem me garante
que na sua fuligem
o mar, esse transparente
céu azul caído
não me traga algo
que possa me mover
como gafanhoto aquático
até seu fim, porque sei
que ele, esse ser de água,
esse monstro sem braços,
é cheio de infinitos abismos.
Mar, meu belo mar,
meu horroroso mar,
pavoroso, não te quero,
e como te quero,
mar de tripas salgadas,
mar feito de ventos, de colinas,
mar onde se afunda a baleia,
e o navio encalhado dorme
tranquilo no porto,
porque és o porto,
e não és nada além de
onda e espuma.
Morar no mar,
não no mar, naquele mar,
aquele verde, aquele roxo,
aquele mar, roto como um sino,
vermelho como o sangue de um touro,
morar no mar,
envelhecer no mar
como um aquático poeta,
morrer sem respirar,
e ter uma casa cheia de caracóis
e um jardim de algas brilhantes
onde pequenos peixes-palhaços
contam histórias adormecidas
sobre o profundo mar,
o belo mar, o mar horroroso.

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