quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Canção infrutuosa


Olhai, pensais que sou um poeta?
Que coisa ridícula de se ser.
Não, não, não, não,
poeta não. Isso nunca.
Poeta são os galhos do campo,
as árvores mortas caídas perto de casa,
poeta são os telhados, não esses ridiculos
seres de dois braços que se sentam diante
de uma folha e mastigam palavras para
vomitar canções que serão esquecidas,
porque não são nenhum neruda, nem bob dylan,
não, não, não, não,
não existe poeta,
poeta é o por-do-sol que é uma gravata,
poeta é a lua, essa insignificante ostra que
brilha dia sim dia não quando bem quer.
Poeta são as folhas que beijam as mariposas carentes,
poeta, são os palhaços que caem bêbados nos becos,
poeta são os homens capitalistas que governam
com um pedaço de papel a vida dos que (como eu)
não são poetas, mais sim são feno e madeira.
Poeta? O que é um poeta?
As cerejas, as aves, as nuvens,
os antílopes africanos,
as pedras antigas, os reis mortos,
a ira popular,
as empresas, o vazio,
a natureza, os cemitérios,
o lustre, a bebida da sexta-feira,
a coca-cola na geladeira,
o sexo de orgasmos infinitos,
a sujeira.
Que pensais, que sou um poeta?
Que coisa ridículo de não se ser.
Eu sou poesia. Sempre.

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