(lorca e suassuna)
Gosto de escrever criticas. Gosto muito mais de escrever criticas de assuntos dos quais eu sou familiarizado. Acho que escrever sobre algo que gosto, é de fato, um dom, uma coisa saborosíssima.
É como uma comida bem temperada. Existem os bons e os maus críticos, e todos estão na mesma panela. A literatura, em sua essência, pode aceitar qualquer coisa, qualquer bobagem, e cabe ao leitor, ou ao menos, ao leitor inteligente, que diferencie o ruim do bom, não que o ruim não seja bom nem que o bom seja ruim.
Espero que me entendam. Quando escrevo deixo os meus dedos irem a frente, e depois vem o meu pensamento fazendo a limpeza, bem atrás.
Quero falar nesse texto de dois autores muito importantes para a minha obra, e para a minha criação literária: Ariano Suassuna e Federico Garcia Lorca.
Ambos já estão mortos no plano existencial desse mundo, e no entanto, nos legaram, ambos, uma obra eterna, simples, compacta, pura, defensora de seu país, de seu povo, de suas religiões, etc.
O que a obra de Lorca tem haver com a minha? Essa foi uma questão colocada por um amigo, quando eu estava tomando o meu café com leite sossegado. Pensei por alguns instantes, para responder, e descobri que a obra de Lorca, além de ser una, é ao mesmo tempo, diferente.
Me une suas expressões, suas metáforas, usos dos sonhos e de linguagens que eu considero herméticas e míticas. Sempre quis fazer uma poesia de difícil acesso. Meus poemas de certa forma podem até mesmo serem simples, porém, já tive pessoas pedindo para que eu explicasse coisas dos meus versos das quais elas não compreenderam muito bem do assunto.
Sempre imaginei Lorca sendo interrogado por tais e tais coisas nos seus fabulosos livros. Poesias são feitas para a interpretação do próximo, e não do autor. Dito isso, gosto muito dos poemas do "Romanceiro Gitano", e do "Poeta em Nova York", suas obras primas.
Ariano Suassuna representa para mim o que é um profeta em forma de poeta. Um defensor, um guerreiro sábio, que soube usar as palavras com muita sabedoria.
Li com muito amor todas as suas peças, e confesso, não com orgulho, nem com remorso, e sim com espanto, que seu saboroso livro Romance d' Pedra do Reino, tem um trecho que me enche de orgulho e me espalha paz, um trecho em que diz que "todos os paraibanos tem sangue judaico".
E realmente, me faz lembrar que os meus ancestrais, quando fugiram do Marrocos, vieram para Portugal, perseguidos ali, vieram para o nordeste do Brasil e se fixaram na Paraíba.
Que coisa gostosa, que poética, que largueza literária.
Bem que eu seja um cosmopolita literário de São Paulo, um estado onde os artistas são destratados, quando não muito, esquecidos ao relento, empobrecidos, e chamados de "vagabundos" (como se essa palavra significasse algo de ruim). Eu me considero um armorial, assim como imagino que Lorca era, assim como Suassuna.
Meus poemas estão muito longe dos trabalhos desses dois autores. Mas sempre que abro um livro deles, sinto uma paz, uma alegria, um sentido de estar vivo, e uma fé na humanidade, que de vez em quando, preciso novamente ter, porque me escapa.
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