ASSUNTOS

ASSUNTOS

(outro dia que se vai)

Outro dia que se vai.

Menos um dia.

Mais um dia.

O que podemos fazer?

Carrego na mão

o jornal, o peixe,

a manteiga fresca

deixada ao sol,

derretida, derrete-se.

Claro, como as uvas,

escuro, como as luvas.

Os hospitais são cegos,

os políticos são corruptos,

e o dia que se vai chora

comigo lágrimas e mariposas.

Vai me dizer: por qué se

vai se tudo se recomeça?

A terra, a terra gira,

é um peão inchado,

uma grande sabotagem.

Escória, que dia bonito,

no café pinga o leite

e no peito pinga o

suspiro. 

Sinagoga

Nas suas pedras

a navalha,

a navalha clara,

clara, é claro,

a navalha escura,

escura, escura, escura.

Repete pra mim

tuas leis, as leis

de Moisés, recita-me

suas leis, uma só:

porque Deus é um.

-Somente isso oque me ensinar?

-Somente isso.

Pregos

Como são belos

os pregos.

As palavras

são pregos.

Fixados nos

cadernos.

Os pregos

as madeiras

o martelo.

Como são

belos os

pregos.