sábado, 23 de junho de 2018

Esquecido



Esquecido no bosque eu fui,
esquecido no bosque, carregando sacolas,
meus papeis encharcados de arames e cercas,
esquecido no bosque,
entre libélulas e mariposas serenas,
esquecido no bosque.

Esquecido no bosque,
quantas árvores tombadas pela chuva,
o cheiro agreste da terra nas narinas,
os cavalos galopando livres,
os pingos conduzindo minha pele até
a morte e a serenidade das cigarras
mudas que dormem nas folhas.

Esquecido no bosque. 

E ali vi pela primeira vez
seu rosto gentil de primavera japonesa,
vi ela pela primeira vez,
e não tinha espelho a não ser
um carvalho morto no meio
das águas puras que percorriamos
como duas sombras
dançando pelo vento
com as folhas amarelas.

Esquecido no bosque,
vendo as formiguinhas irritadas
assassinarem as cigarrinhas cantantes,
vendo os touros chifrando os toureiros,
vendo o sangue escorrendo pelas
tulipas vermelhas e as flores gritando
porque o silêncio era tudo e quando
o grito feria as folhas serpentes
saiam para picar os homens desatentos.

Esquecido no bosque,
ai, quando eu era esquecido,
saltando pelo campo em busca
de Deus, e a única fruta que
via era a fruta podre das cercas
e dos arames.

Esquecido...
lembrado...
amado...


Fui pelos bosques.

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