Me movo,
sim, me movo, lento, integro,
me movo, e o céu rebuscado
de um azul divino
lança suas gotas de
marfim até o chão estéril,
me movo, sim, me movo,
e o rosto do meu povo
é o meu rosto, machucado,
sangrado, esmurrado por
minhas mãos de pelicano morto,
sim, me movo, e me movo,
como um caramujo vou me derretendo
porque colocaram o sal maldito
na porta do meu coração cinzento,
e fui, sim, fui pelos rios, pelos canais,
pelo lago imenso congelado,
pelas fornalhas e pelos bicos dos pássaros,
me movo, sim, cantando, me movo,
levando minhas barbatanas de peixe,
me movo, sim, sem cartolas, sim,
sem espadas, sem runas, sem cartas,
me movo sem loterias, sem carros,
me movo sem estrelas, sem som,
me movo com minha pátria, sim,
mesmo sem governo, me movo,
ai, autoridade dentro do meu peito,
abro minhas mãos cortadas e seguro
o espelho onde minha face está
refletindo um menino triste que
beija uma menina tão alegre que
chega a ofuscar o sol, o sol, sim
que me movo, sim que se move,
sim, onde o sol se esconde e seus
passos se perdem em filosofias inuteis
que usamos para passar o tempo
enquanto me movo, sim me movo com
o corpo ensaguentado, com a alma
angustiada, com os suspiros me alimentando,
me movo, sim, me movo, e vou e caminho e sigo
e canto.
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