segunda-feira, 12 de março de 2018
O QUARTO
O QUARTO
Poderia ser breve a mensagem em cima da mesa ao ser lida com a maior rapidez com os olhos. O frio podia entrar pela janela, fazendo os olhos soltarem algo que lembrasse lágrimas. Mas, se não estava chorando, não estava sorrindo. A janela aberta dava a uma paisagem elegantemente bela: nuvens brancas, goras, iguais a ovelhas, e aviões, subindo e descendo, porque ali perto, um aeroporto.
As mãos podiam estar tremendo, não por causa do excesso de tristeza que ele estava carregando como um impulso primitivo. Era artista. os artistas em sua maioria vivem tristes porque não são reconhecidos, pensou, deu uma risada, pegou o papel, largou um pouco o bilhete e olhou pelo quarto. Suspirou. suspirou um suspiro que entrou da boca até os olhos. Olhos, olhos escuros, olhos de azeitonas negras. Como poderia saber que aquele bilhete poderia pôr seu mundo de cabeça para baixo.
Uma arainha pequena, de pernas grandes e finas, estava subindo pela parede, uma parede cálida, porque embora o frio batesse os dentes lá por fora, o calor da parede, pintada de branco, fazia o ambiente, exatamente um quarto pequeno, com uma mesa ao meio, uma cama do lado esquerdo, um ventilador de teto, um guarda-roupa grande, listrado de duas cores branco e preta, como um jogo de xadrez. Que dia do mês era? ele pensou, antes de sentar-se, porque além de uma janela, paredes brancas cálidas quentíssimas, cama, guarda-roupa, papéis, canetas e uma mesa, haveria de se ter (é em alguns casos impossível de se ter) uma cadeira. uma bela cadeira. Uma cadeira boa para sentar-se e relaxar com um livro, ou ao menos, sentar-se para pensar na vida, ou como diria o seu velho avô, sentar-se para contar o pouco dinheiro que nos resta, do exílio.
Apanhou uma bolacha, pois ao subir as escadas que levaria suas pernas peludas até a porta que lhe seria aberta dando a entrar pelo quarto que supostamente considerava ele como sendo o seu ele havia trazido fazia umas horas tantas uma bolacha do super-mercado. mesmo achando o preço da bolacha muito caro, não fez questão de pechinchar com o vendedor, apenas passou pelo caixa, pegou o dinheiro, o rústico dinheiro como vivi dizendo, e pagou a moça de olhos verdes e cabelos negros, de formosura muito intensa, lembrando talvez, uma espanhola, e pagou.
Que bom seria se começasse a chover, pensou, enquanto algumas gotículas de chuva pingavam pelo teto, devidamente e é claro, prudentemente, forrado por um forro branco. Deixando a claridade do quarto se acender enquanto as estrelas brilhavam por cima da casa, o pacote de bolachas vazio, o celular recém carregado cheio de vídeos para assistir mais tarde, o frio do vento fazia as janelas baterem, porém ele relutava fechá-las porque gostava de sentir frio. Não o frio de se morrer. mas o frio de se sentir bem aquecido em uma casa que não sua mais meditadamente supostamente sua.
Abriu o bilhete. Essas são as boas ações de fugir um pouco da vida pragmática que se leva. Suspirou. Abaixou-se para pegar o pacote de bolacha que o vento derrubara no chão. Seria bom escrever um poema, pensou. Apagou a luz. E se esqueceu de fechar a janela (lá fora o vento continuava chiando, enquanto os aviões enormes subiam e desciam fazendo o aeroporto se movimentar).
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