quarta-feira, 24 de julho de 2024

poemas

 

O FUTURO DE CINZAS, POEMAS



A COVA
Veja: é a cova aberta à frente!
E que desejo estranho de entrar lá...
Ali onde não verei nenhum ente
E barulho algum me acordará.

Será o fim dos sons sem harmonia,
A perfeição do útero eterno.
Onde descansarei da agonia
De viver cá nesse pré-inferno.

A cova é a divinal consciência
Dos fatos que não acontecem mais:
Da falta da hemorragia da incidência...

Ali onde os ossos que tu suponhais 
Levantar no último ato da ressurreição!
Ficará todo o coração da humanidade: uniformais!



O MORCEGO
Que bela criatura essa que me olha
A voar dentro do telhado igual praga.
E as asas feias que assolam a imaginação
Dá ao morcego a beleza da criação.

Nobre animal! Tu de certo sobreviveste
Ao dilúvio, pois Noé assim como eu
Deve ter dito: -que beleza esplêndida
Dessa noturna criatura que ronda a noite.

As estrelas dos seus olhos são
Mais belas que essas que brilham no céu.
O morcego é uma estrela que me espanta.

Posso te chamar de anjo negro,
Suas asas são perfeitas e belas.
Não posso ter medo:  ó admirável morcego!


O FUTURO DE CINZAS
Quem me dera esse céu azulado
De repente ficasse cinzento e triste.
Que agonia essa no meu peito
Que insiste em me querer feliz.

Ah, já o disse: a tristeza é tão bela de se sentir.
Ser amado é um grande desperdício.
E o coração batendo pelo vício
Do desejo de ser amado por outro ser.

Nas tumbas o futuro de cinzas
Ambos hemos de algum dia ser...
Então para que pressa para morrer?

Deixa que a realidade saberá
Que minha caveira amará a tua caveira.
E seremos as cinzas eternas do não ser.


O DIA DA MORTE 
Algo apunhalou o meu ser interior.
Ah, entendi, é a tristeza do horror.
E a sombra que me segue dá risada,
E eu vejo a estrada toda esburacada...
Nesse caminho horripilante onde ando
Vejo vozes, escuto e ouço coisas
Que arrepiam qualquer ser que me olha.
O urubu que me segue cavará a minha cova,
...................................
E de certo devorará junto dos vermes meus ossos.
De nada me servirá a existência
Esse pandemônio nirvânico de ocorrências.
E a vida fechará meus olhos
Na escuridão da eternal ausência.
E ficará meu nome nessa lápide brilhosa.



BUDISMO PERFEITO
Pinga o dia da felicidade
Em minha alma igual mentira.
Calem-se todos nessa cidade
A tristeza é minha única amiga.

Deus em silêncio observa tudo.
E eu em silêncio trabalho
E choro igual escravo
Sem entender nada desse mundo.

E lá fora pessoas gemem
Enquanto outras choram tanto.
E eu com esses vou em prantos

E me mantenho no manto da tristeza.
Silêncio! Esse é o budismo perfeito
De quem segue a própria senda.  



CANÇÃO DE UM CEGO
Descansa amor,
Teus olhos cansados
De quimera na sombra.
Veja, existem outras

Eras onde não
Éramos nada... Suponhas
Que viveste outra vida.
Ah, que ridículo pensamento!

Já não basta em uma só
Todo o martírio e sofrimento?
Chora comigo, amor, essa

Mágoa de estar só.
Veja, no fundo no fundo tu e eu
Já sabemos: ambos somos apenas pó.



NIRVANA IMPACTOS 
Não quero em nenhum momento
Ser feliz. A felicidade é uma
Besteira. Quero seguir assim
Sem entender o ritmo das prendas.

De tanto ser castigado pelo divino
Desaprendi a sorrir ou a viver rindo.
Meus olhos são poços de lágrimas
E meu coração um ferro entupido

De ferrugem e sebo marinho.
Pudera eu ser um humilde sapateiro
E viver com o martelo a barulhar.

Assim ficou o meu tempo preso.
Que pena não poder recuperar.
Assim sigo sem amar.



A BELEZA DO ESCARRO
Abre a boca, amada minha,
Que abrirei a minha sorrindo
Para que seu cuspe desça
Pela minha garganta sem freios.
Deixa que sua goza também
Possa seguir a mesma cavidade oral.
E se encontre escorrendo
Com seu cuspe fenomenal.

Vômite se quiseres até
Nesse amor sem rumo que lhe dou.
Mas cuspa na minha boca sem reservas.
Escarra a beleza do muco de
Teu sexo feminino em meu masculino.
Afaga com teu cuspe a minha tristeza de gênio.


O VERME
Que belo bicho, esse, o verme,
Contorcido entre a flor e meus olhos.
Quem fez tal bicho orgânico
Para devorar as raízes das rosas?

Olha como anda, essa criatura,
Que deve ser milenar de tempo.
Sacudindo suas pernas estranhas
Me arrepiando o perfeito ócio.

Vou admirar esse bicho sem
Esqueleto que passa pela vida
Com ar tão brusco e majestoso.

O verme é o rei que rói
Aquele que morre sem nada.
O filósofo que dá vida se basta.



CAOS MODERNO
Absurdo, vede como se movem
Eu junto dos meus iguais,
Que não passam de ossos sepulcrais
Andando sem rumo certo.

Veja, levanto e trabalho
Sem entender nada e escarro.
Ó ciclo inútil do samsara,
Essa palavra é sinônimo de tédio...

Quisera mesmo eu vir de
Outras eras melhores que essa
Onde o caos cotidiano impera.

Ó tédio, encararei a mãe Shiva
Nesses processos naturais onde o
Verme é somente um operário da ruína.



FIM DA PAIXÃO
Deixa eu entender esse sofrimento
Da ausência especulativa do sentir.
Bem que o mundo poderia repetir
A ocorrência das verdadeiras experiências.

Já doem os meus olhos nesse
Meditar maldito de tanto pensar.
Estou cansado de tanto trabalhar
E sem sentido algum ainda existo.

Basta! O que fazer nessa desconfiança
Se não prosseguir atrás do nirvana
E escapar do sofrimento sem fim?

Ciclo infinito que me rodeia
Igual um dragão na própria calda.
Posso celebrar e exaltar tua ausência?









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