quinta-feira, 11 de julho de 2024

ego e outros poemas

 

EGO
& outros poemas 




O BUDISTA
Veja - sou eu nesse silêncio,
Ainda que nada vejas.
Pobre e demente peço
Que na morte me ergas!

Eu, que já morri vivendo,
Existe coisa mais piegas?
Deixe a morte contornar
Esse caixão d' minha alma.

Vamos tu e eu, bela caveira,
Relembrar o amor que vivemos.
Tu na solidão, e eu não brigas.

Ó, não dou razão alguma.
Agora mudo medito no budismo.
Para que existir se nada mais sinto?


DEBAIXO DO TAMARINDO
Debaixo do tamarindo, eu e ele,
E fiquei perplexo com a medição.
Poderia explicar essas bizarrices
Esse negócio dito coração?

Eu e ele, debaixo do tamarindo,
A medir, brincar, sexuar a razão.
Não foi a vida que fez esse teatro
De comédia e tragédia, de morte e sedução?

E assim me esqueceu um dia,
Dizendo ser eu diferente.
Poderia caber outro milagre

Na minha alma tão ausente?
Esquecer um dia essas questões.
É impossível. Chora, tristíssimo coração.



NOVO BUDISTA
Eu, que não acredito em tarôs,
Sou o óbvio sinal do religioso.
Eu que durmo pensando em Deus,
Sabendo que Deus, me ouço?

Pensando em Deus, e meditando,
Nas igrejas, pessoas, cidades.
A vida deve ter algum sentido
Mesmo que para mim nenhuma razão

Me explique essas tragédias
Que assombram o meu coração.
Perdoai, Padre Eterno, essas

Murmurações serenas de quem
Não viu nenhum mar se abrindo.
Apenas na imaginação eterna.



O EGOCENTRISTA
Perdoa. Meus sentimentos me levam
A isso. Igual o carneiro ou o bode
Que em cima da fêmea monta.

É tão difícil. É delírio. Veja a
Porta aberta e sonha. Ter um filho
Nesse mundo perverso e feio
É um desejo que me assombra.

Vou deitar, fechar a porta.
Roer meu egoísmo tanto. Entre comigo.
Lá do outro lado darei meu

Último suspiro antes de dizer adeus.
Amigos... Saibam que não sou eu
Quem já morreu. Foi meu egocentrismo!



EGO
Veja como é belo
A beleza que tenho
Nesse meu fundo
Meditar do ego.

Se somos apenas
A aparência externa,
Reflexos aos olhos
De outrém,

Que me importa então
Essa existência chifrin? 
Vou rir também.

Medito, penso e pasmo.
Nessa humanidade incivilizada
Que não passa de macacos.



CRÍTICA
Veja, senhores, essas pessoas
Nesse abominável shopping. E ali,
Trabalho, o poeta das coisas
Que são tristes e chatas.

E como é tedioso ver essa gente
Que por uma casquinha de sorvete
Se põe nervosa e zangada.
Que teatro de esquizofrenia coletiva!

Se há visão do inferno
Saibam que o shopping é a porta
Onde se vivem almas que sofrem

E demônios que perturbam.
Quem é maluco de admirar
Esses burgueses imundos?



O CORAÇÃO
Ritmos que batem e deixam
Esse corpo existindo de
Um lado ao outro pelo mundo
Da irreal verdadeira existência.

Coração, fonte de tormento,
Que dizem os poetas do sofrimento
Que é onde descansa
O tal amor das paixões fraudulentas.

Deixa eu dizer dessa víscera
Bela, que batuca o corpo por dentro,
Que até uma rã dela se faz servil.

O coração levando a loucura,
Finge uma dor tuberculosa
Que faz o homem sentir na alma.



O PRAZER ETERNO]
Assim como se criou
O lugar atroz eterno do sofrimento,
Chegou a vez de se criar
O lugar bendito do prazer eterno.

Onde lascivas infinitas
Rondem os lupanares corações.
E as meretrizes sejam as
Guias beatrizes de dantes aflições.

E ali, nesse refúgio onde
Possa com a mão eterna gozar
Na masturbação dos pensamentos.

O prazer eterno rodeando
O céu imaginário do cristão.
Ali mesmo no sepulcro aberto.



A LOUCURA
Óh, que triste não saber
Dos atos irresponsáveis.
E é irracional vontade
Que gera essa amarga força inumana?

Será que isso dizia já
Arthur Schopenhauer na Alemanha?
Que a vontade irracional
É uma loucura imensa e insana?

Que terrível dor! Que sofrimento.
Melhor se encolher e chorar por dentro
E representar o papel cotidiano!

Mesmo que a melancolia cubra
A alma de boa aventurança:
Qual a razão para se viver insano?



A ALMA É ESSÊNCIA
Existirmos, é que isso se
Destina a algo que desconhecemos.
Assim é a alma, essa essência
Infinita do conhecimento

Que carregamos no corpo. 
Por pensarmos, achamos que
As palavras resolvem a aflição
Do cosmo todo.

Vinde os cansados e oprimidos,
Que nenhuma explicação dará
Aquele que nos deixou cansados.

Por que a alma é apenas 
O que constitui o próprio existir:
o Mistério das coisas plenas.



SUSPIRO
Não coube a mim decifrar
As rotações estelares nem
As planetares do céu acima.
Que me baste então amar!

E tudo o que é vivo ou
Que já morreu eu posso celebrar.
Mesmo que nada entenda
Que cantar também é silenciar.

Me baste apenas entender
Que a maldade é um esquema.
A mão que acaricia o peito
É a mesma que lança a pedra.

A boca que sente o outro 
Lábio feminino, eis que escarra
O cuspe no amado rosto
Do ser que por ousadia se fez

Traidora do amor jurado eterno.
E é risível os homens nesse
Teatro chamado terra. Esse cosmo
Tolo e frio que nos rege sem

Nenhum sinal de pena.




PINTOR DA ALMA
Deite-se, amiga, nesse divã
Que nesse estúdio de pintura
Vou tecer em tinta pura
A figura humana nessa tela.

Não sei se a alma vai
Aparecer nas cores.
Muito captou Munch
O suspiro eterno do grito 
                                  existencial.

Deixai comigo dizer
Nesse pincel o essencial.

Amiga, nessa hora 
As palavras não bastariam.
Vou pintá-la agora!



A JAPONESA
A rutilancia exótica de tal orbe 
Da epigênese de tal natureza,
Deixou em sua face a beleza
Do amoníaco dessa imagem análoga.

Sofro desse amor desde a infância,
Profundissimamente niponico na
Ansia admiradora dessa imagem 
Que formou uma célula concreta.

Oh dor dos sentimentos abstratos!
Que eu me cale na escuridão
Dos signos zodiacais em marte.

O último verso que eu lançar
A escrever sobre essa mulher
Seja a saudade de um enjeitado.


AOS PÉS DE CRISTO SENHOR
Verdadeiramente cristão eu,
Judeu que zomba dessa arca sagrada
Depositada aqui nessa igreja.

Cedo virei, eu mesmo aqui,
Enfim aos pés de Cristo, Senhor,
Me deitarei sem chorar,
Rir ou mentir nesse sonho fluorescente.

Ei de dormir o eterno sono,
Nesse mundo tristonho e verde.
Acordado irei partir,

Que aos pés de Cristo, Senhor,
Me deito e medito igual profeta:
Na alucinação por ti eu ser.



O JUDEU VERDADEIRO
Não cuideis de se entristecer, 
Que ainda estamos em idade de crescer. 
Tempo há para folgar e caminhar. 
E Viverei a tal vontade, e verei o prazer.
Nessa terra sem consciência, 
Nós somos vida das gentes, 
Na morte de nossas vidas,
A tiranos impacientes, que as almas nos tem roídas.
Sabei que quem bondade tem, 
Nunca o mundo será seu,
 E mil enfados lhe vêm.

Sabeis quem é Deus? O santo infinito.
Que mistério por Ele sinto
Eu, que sou verdadeiramente Judeu.



O PÉ DE MANGA
Plantei se não me esqueço a memória,
Em outras eras tão belas,
Nas terras de meu avô
Um simples pé de manga.

Mangifera indica, bela filha
Das cosmopolitas anacardiaceaes.
Em ti pús meu peito ilusório
Como se em ti eu fosse dentro.

Ficou para trás. Aquela cidade
-Que não nomeio em versos
Não vou nomear também a ti jamais.

Arma que seja do passado,
Suas raízes firmes ficarão.
E quem outro de ti plantarão?



NA ÁGUA BRANCA
Aquele simples laguinho
Que outros chamariam bosteiro.
Ficou preso na memória
E se secará por outras mãos.

Eu me lembro de mim menino,
Saltando aquele imenso barranco.
Outros te conhecerão
Ou jazereis em ti mesmo esquecido?

Que suas águas continuem
A seguir o fluxo contínuo
Da existência sem significação.

Outros te nomearão outra
Coisa que não sejas. Eu
De Água Branca ainda penso.



EVOLUÇÃO
Não pense por isso em Darwin
E suas simplificações cientificas.
Nem tencione Marx com seu
Comunismo fajuto e tolo.

Evoluir requer uma razão.
Nem nomeio os endinheirados
Que são apenas uns bobos.
Nem ao pobre abandonado.

Que relíquia maior tem o homem
Mais que a prata e o ouro,
Se não o conhecimento de tudo?

E usá-lo para benefício de todos.
Evolução de alma e de espírito.
E caminhar rumo ao eterno sono.



O CAFEZAL DE NOITE
Sublime noite de mãe Africana,
Eu e tu naquele local escuro.
Ao soar lampejante dos sons
A beleza das estrelas sobre a

Moita. Ó, belo ser, esse
Que se chama hommo sapiens.
Tudo quer saber e supõe
Saber sem nada entender, afinal.

A dura escamação da dúvida
De estar duro o estado das 
Fuligens e do prazer plebeu.

E bebemos as formas daquela
Noite que ficou presa em 
Nossas luzes passageiras.


ÚLTIMA LAMENTAÇÃO
Me escutem todos ou
Ao menos deixem de ouvir.
Qualquer coisa que se
Faça nesse mundo é vão.

Tudo bem. Eu devo partir.
E para quem devotar
Esse sofrido coração?
A essa última lamentação.

Pois bem. Que se faça ouvir.
E os pássaros todos sejam
Preservados na memória
Dessa canção inútil.

Que outros mil poetas
Também já cantaram o 
Mesmo sentimento relembrado.
Que vive de tempos em tempos,

A ser celebrado nesse
Eterno passado de livros.
Abriram as covas,
E os celestiais abismos?

Agora mesmo. Ouçam por bem.
Que nesse mundo aquele
Que dá também não tem.
E tudo isso é vão e ridiculo.

Que espetáculo sombrio!
Esse gozar da vida é inútil.
Existe outra explicação
Para ver uma pessoa iludida?

Agora deixem que cante
As vísceras todas. Não só
O coração, essa quimera
Palhaça de sentimentos tolos.


 

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