domingo, 27 de dezembro de 2020

A MORTE DO CORONEL IVAN MACEDO

 

A MORTE DO CORONEL IVAN MACEDO

(CONTO FANTÁSTICO)

 

    O coronel Ivan Macedo sabia muito bem que sua esposa, Samara Alburquerque de Andrade, há muitos dias estava se encontrando com o seu amante às escondidas.  Em silêncio profundo, ele meditava, quando ela entrou pela porta. Já ia dar meia-noite em ponto, quando ele olhou o seu relógio de pulso.

- Não sabia que você ia estar acordado – disse Samara. – Como anda a dor da sua perna?

- Está bem melhor! – respondeu Ivan, com um leve bocejo. – E o seu amante? Como anda?

- Você quer mesmo ter essa conversa há essas horas? – perguntou Samara com indignação. – Podíamos conversar amanhã de manhã. Preciso dormir. Estou cansada.

 

   Ivan Macedo havia sido ferido na sua perna durante a noite. Atentados aconteciam muito por aquela região, onde ele fez questão de comprar uma bela casa com cobertura e lareira.

O tiro da bala do revólver havia acertado a sua perna esquerda.

 Os amigos mais chegados, desde os tempos do colégio militar, costumavam chama-lo de Leão. Ele gostava muito da metáfora.

  O Leão, além de ser conhecido como o rei dos animais, era um animal feroz, capaz de amedrontar qualquer pessoa; caso alguém tivesse um encontro com essa fera sem uma boa arma na mão, era bom se ter boas pernas para correr.

  

  Ivan agora se recordava dos tempos em que saia para caçar patos selvagens e outros animais com os mesmos colegas da escola militar. Era um jovem ousado e respeitado pelo seu grupo. Por isso doía-lhe tanto a notícia do seu médico que não teve pena em anunciar o fato:

 

 - Essa bala atingiu um nervo muito importante da sua perna, coronel – disse o médico, tirando os óculos redondos da sua cara cavalar, para limpá-los.

 - E o que isso significa doutor? – perguntou Ivan, apreensivo. – Vou poder continuar com as minhas atividades normalmente, não vou?

- Acredito que não! - respondeu o médico com sinceridade. – A bala está encravada, e acertou esse nervo, que como eu já te disse, é muito importante para a sua perna. Infelizmente o senhor irá mancar para o resto da vida.

- Vou ter que usar bengala também, doutor? – disse Ivan com um sério acesso de tosse percorrendo sua garganta.

- Acredito que sim! – disse o médico.

 

  Uma lenta garoa começou a cair pelo bairro, e o coronel Ivan sentiu os fantasmas das suas lembranças agitando sua alma decadente. Seus cabelos, que um dia foi de um negro profundo como o céu, agora estavam mais brancos do que a lã de uma ovelha.

 E era assim que ele se referia a si mesmo, quando algum amigo ia visita-lo: - Não sou mais um leão, como antigamente; agora sou como uma ovelha manca sendo levada ao matadouro.

 

   Lembrou-se do tempo e dos dias em que amava profundamente Samara.

 Quando a viu falando francês, se encantou profundamente. Ele era um típico amante da cultura francesa, e decidiu abordá-la firmemente, mesmo sabendo que ela já conhecia a sua fama como “coronel famoso com as prostitutas do bordel dos mais variados lugares do país”. 

 Ivan chamou-a de “minha pequena” na primeira conversa que conseguiu ter com ela a sós. E Samara respondeu firme e bruscamente:

- Pequena é tu! – disse Samara.

 - Não quis ofende-la – disse Ivan. – De onde vim, na minha cidade natal, é costume chamarmos nossas mulheres dessa forma, delicada e poética.

 - Não gosto de poetas – disse Samara. – Prefiro os homens de combate.

- Homens como Hemingway, não é? – perguntou Ivan, sabendo qual seria a resposta dela.

- Homens que se assemelhem a leões – respondeu Samara.

- Então você não pode ser comparada a uma bela borboleta, não é mesmo? – perguntou Ivan.

- Prefiro ser chamada de  Tigresa – disse Samara.

 - Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel – cantou Ivan.

 

As unhas de Samara eram pintadas de negro, e as íris de seus olhos eram da cor pura do mel. Ela ficou encantada com o coronel Ivan Macedo. Antes que o ano acabasse, ela aceitou o seu pedido de casamento.

 

  Samara ainda continuava pintando os seus cabelos de negro. Não aceitava os avanços da idade. Mesmo quando descobrira as traições do coronel, não se sentiu envergonhada: ela também tinha seus amantes, com os quais se deliciava nas noites em que Ivan passava as madrugadas fora, bebendo ou jogando.

 

“Ela deve estar com algum amante gordo e imbecil”, pensava Ivan. “Semelhante a um grande hipopótamo, que vive na sombra das águas do rio Nilo”.

 

  Nos dias que antecederam suas noites de insônia, quando a dor da sua perna aumentava drasticamente, a morfina o fazia meditar e pensar sobre como seria o rosto dos amantes de sua esposa.

Pensava em escrever um livro de memórias, em que poderia recordas as suas lembranças no tempo em que pegava as putas mais atrevidas do bordel, deixando-as com as pernas bambas e sem folego com os seus vinte e três centímetros descomunais que possuía.

Recordou a primeira vez que pôs o cacete para fora, mostrando aos olhos de Samara a prepotência do seu imenso órgão genital.

Ela arregalou os olhos, como se não houvera visto em lugar nenhum aquilo. Assombrou-se com o tamanho gigante da cabeça vermelha.

- Não sei se vai caber tudo – disse Samara, falando mais para si do que para Ivan.

Ele riu gostoso com a situação. Gostava de assombrar as moças, e de certa forma seu pau, sempre que dava essa cena para a contemplação dos seus olhos, o fazia pensar na palavra com que os colegas do colégio militar se referiam a ele: um Leão, um verdadeiro leão.

Samara abriu a boca e engoliu a rola gigante do coronel. Em poucos segundos sentiu seus lábios adormecerem, e se cansou de boquetar o tal cacete.

- Cansa! – disse Samara.

- Não sei se cansa, nunca chupei meu pau – disse Ivan, gargalhando.

 

Samara deitou na cama e ficou com as pernas abertas, deixando antever aos olhos do coronel sua bela buceta macia e raspada.

 

Ambos se satisfizeram com a primeira relação sexual depois do casamento, como mandava a boa tradição dos pais da moça.

 

  Tudo isso agora não passava de uma leve lembrança, como se os dias e os tempos em que Ivan Macedo, o coronel Leão, tivesse vivido fossem apenas uma flor murcha que chegava ao fim.

Na frente da sua cadeira de repouso, um espelho mostrava a sua face. A lua podia ser vista se refletindo pela janela.

Quantas vezes ele não viu a lua em outros lugares, em outros países? Havia visitado a França, a Polônia, a Rússia, o México.

  E agora ele estava ali, entravado, parado, com a perna alojada a uma bala de ferro, enferrujando seus ossos por dentro.

 Samara estava dormindo na cama.

O coronel sentiu pena das palavras que disse para ela.

- Me desculpe por ter dito aquelas coisas – disse Ivan.

Ele sabia que ela não estava ouvindo, pois dormia profundamente. Realmente estava cansada.

“O hipopótamo deve ter dado muito trabalho na cama”, pensou o coronel, satisfeito em não sentir ódio, nem ciúmes, nem rancor. Apenas sentia a sua perna alojada com uma bala.

 

   Ivan Macedo, o coronel, levantou os olhos para a porta do seu quarto, e viu na sua frente uma figura encapuzada, segurando uma espécie de foice.

 

Nada disse. De dentro do capuz uma voz feminina chegou até os ouvidos do coronel:

 

 

- Coronel Ivan, vamos?

 

- Eu já estava esperando isso – respondeu Ivan.

Fim

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