domingo, 10 de junho de 2018

(conversa nas altas noites)

(conversa nas altas noites)

De noite, quando vou encontrar com algum amigo, e até mesmo com algumas amigas que tenho em minha cidade natal, fico conversando horas a fio sobre os mais diversos assuntos, desde os mais insignificantes (o porquê de matarmos os insetos que andam por nossas casas), até os mais elevados (o que acontece conosco quando morremos, temos uma alma, para onde vamos, voltaremos?).

Quando converso, muitas vezes preciso parar um pouco e respirar. Um amigo disse para mim que quando converso pareço uma panela de pressão chiando, já outro certa vez disse que gaguejo de vez em quando porque tenho palavras demais e uma mente muito pequena para comportar todas as frases que posso usar. Ambos podem estar certos. Ou errados. O que importa é que dialogamos, e os meus diálogos, vãos as vezes, sempre me confirmam coisas, mais nunca resolvem nada.

Desde pequeno fui um menino solitário. Gosto de ficar sozinho, não o tempo todo, mas quando fico sozinho exercito muito minha imaginação, algo que talvez tenha muito haver com minhas origens judaicas, já que no judaísmo, é preciso retirar do nada o tudo.
Deus sempre foi um dos meus assuntos preferido de conversar. É muito difícil argumentar com alguém seriamente sobre Deus por essas bandas inculturais. Não me refiro a falta de cultura, me refiro a agressividade do povo em que habito, o que supõe que eu entenda muito bem que tipo de povo me rodeia e do qual eu faço parte por que assim me coube a vida a ser parte de tal. Sei, como todos os religiosos engravatados da minha cidade, passagens inteiras da escrituras Sagradas chamadas bíblia, não para subir em cima de um púlpito para recitá-las sem nenhum tipo de verificação, como um papagaio adestrado. Gosto de ler, entender, meditar, e até mesmo questionar.

A primeira vez que fiz uma pergunta para uma certa pessoa inteligente sobre um assunto, mais ou menos o seguinte "porque Deus precisou fechar o mar Vermelho sobre os egípcios, se esses também eram suas criações?", não poderia muito bem com um assopro faze-los voltarem ao Egito, derrubando todos os seus ídolos de pedra, ouro etc e ainda por cima ser glorificado sem nenhum tipo de morte? Muito misterioso esse assunto. Só posso dizer que o sujeito conseguiu desviar do assunto o mais rápido possível. Julgo que Deus nos deu inteligencia apenas para ficarmos assistindo televisão, sentados, como verdadeiras estátuas.
Não penso assim. Não penso desse modo de forma nenhuma.

A questão que sempre me perturbou no fundo do intimo da minha alma cristianizada (eu gosto muito de mitologias, e como tal, escolha a mitologia cristã para moldar a minha vida com ordem e decência, porque é a única que realmente prega um amor real), é a maldade que cerca esse planeta, como se o mal governasse a tudo e a todos.

Eu mesmo fui vitimas de injustiças claríssimas, e no entanto, mesmo provado no fogo divino, creio que Deus sempre foi misericordioso comigo, graças a Jesus, sempre digo isso, porque muitos foram maus comigo sem nenhum fundamento. Bom, é melhor esquecer esse assunto, eu vivo rodeando de assunto assim como os israelitas rodearam as montanhas antes de partirem para a Palestina.

Como pode um Deus justo, santo, perfeito criar um mundo imundo, maligno e imperfeito? Essa questão já deixou filósofos carecas, poetas enlouquecerem e artistas chorarem desesperados.

Lucrécio, um poeta antigo, tem um fundamento muito interessante sobre esse assunto, que é mais ou menos assim no original: Nequaquam nobis divinitus esse paratam /Naturam rerum; tanta stat praedita culpa; na qual a tradução ficaria mais ou menos assim: Se Deus tivesse projetado o mundo, não seria

Um mundo tão frágil e defeituoso como nós vemos.

Que belos versos, não? 

Essa questão para mim não se fecha. Passo a metade do dia lendo o maravilhoso livro de Jó, e continuo com as mesmas interrogações, mesmo sabendo que no final os bons são recompensados, não por seus méritos, de forma nenhuma, porque não existem méritos, não existe chegada. Ou se é bom ou se é mau. A árvore má não dá bom frutos e vice-versa.

Deus quis criar um mundo defeituoso? Ou não há defeito algum, e tudo o que vemos nada mais é que o resultado da visão defeituosa que nós fazemos desse mundo?
Continuarei interrogando as coisas, continuarei escrevendo, continuarei sofrendo.
Se não conseguir respostas desse lado, talvez consiga do outro lado (mesmo sabendo que pode não existir outro lado). 

; ) 




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