(antes de morrer de frio)
Quem dorme com esse barulho de leões
africanos rugindo na janela do quarto?
Quem dorme? Coração enferrujado de
mar, de lodo, de águas marinhas profundas.
Adeus.
Não adiantou aquela carta, nem a lembrança
das estrelas piscando como vaga-lumes no
céu enegrecido sem luar e sem carpas enfeitadas
de pequenos girassóis agasalhados.
Adeus.
Quando chegastes? Quando fostes dormir
naquela casa feita de lágrimas? Em uma rua,
número tal, dia tal, momento tal, mês tal,
como os homens gostam de enumerar as
coisas sem sentido da vida: a prata e o ouro
seriam imortantes ao meu coração,
se não fosse seus beijos mais quentes
que os relâmpagos do sono e a distância do mar.
Adeus.
Para onde vai ela levando o meu coração de gesso
empalhado no meio do oceano sem régua?
Para onde vai ela levando os meus olhos murmurando
poemas e pequenas telas que não se vendem?
Para onde vai ela que adormece na grama sem
ouvir a voz do perfume das rosas e dos insetos?
Para onde vai ela?
Para nunca mais regressar aos meus braços de
camundongo, ou irá adormecer em outro por-do-sol?
Para onde vai ela?
Se não para a distância das coisas que se vão
como o meio-dia e a meia-noite rapariga?
Para onde vai ela
me dizendo adeus entre as nuvens e as raizes
das árvores tombadas?
Para onde?
Não sei. Mas me pergunto:
Quem dorme com esse barulho de leões
africanos rugindo na janela do quarto?
Quem dorme? Coração enferrujado de
mar, de lodo, de águas marinhas profundas.
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