quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Romance das Pinturas Destruídas



Meia-noite sem agulhas,
pastos incendiados de tintas
em meio a brancura de flores,
noturnos peixes voadores
incendeiam o ar de escuridão.
Mãos serenas tecem o quadro
em meio a constante solidão.
Vibrações de movimentos oculares,
tochas, cimentos, raízes, pão.

O pequeno olho do cigano
transcorre o universo pálido,
enquanto o céu cinzento se move
moldurando o esquadro.

Ai, tristeza, tristeza,
gritam as ciganas no quadro.
Enquanto o fogo se alastra
e as vozes são abafadas.

Não há ruído de morte
antes do galope do cavalo.
Enquanto percorre o rio da vida
o cigano geme por seu quadro.

Ai, morte, morte,
morte cinzenta de vozes.
Ai, dureza, dureza,
dureza da vida inteira.

Galopa o destino das tintas
envoltas no papel estrangulado.
As mechas dos cabelos são
lembranças despertadas
das raízes sem fúria e sem pátria.

Ai, morte, morte,
que sonhas com outra vida.
Ai, dureza, dureza,
dureza que arde o mar.

O coração de vidro
envolto em tanto sofrimento
virou uma ameixa estragada,
esquecida na fruteira.

O ar da noite suspira
enquanto o cigano recolhe
as cinzas que deixaram.
Jogaram trinta moedas
para oferecer seu 
Cristo amortalhado.
O sol ofereceu sua luz suave
enquanto queimava 


o resto dos quadros.

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