Meia-noite sem agulhas,
pastos incendiados de tintas
em meio a brancura de flores,
noturnos peixes voadores
incendeiam o ar de escuridão.
Mãos serenas tecem o quadro
em meio a constante solidão.
Vibrações de movimentos oculares,
tochas, cimentos, raízes, pão.
O pequeno olho do cigano
transcorre o universo pálido,
enquanto o céu cinzento se move
moldurando o esquadro.
Ai, tristeza, tristeza,
gritam as ciganas no quadro.
Enquanto o fogo se alastra
e as vozes são abafadas.
Não há ruído de morte
antes do galope do cavalo.
Enquanto percorre o rio da vida
o cigano geme por seu quadro.
Ai, morte, morte,
morte cinzenta de vozes.
Ai, dureza, dureza,
dureza da vida inteira.
Galopa o destino das tintas
envoltas no papel estrangulado.
As mechas dos cabelos são
lembranças despertadas
das raízes sem fúria e sem pátria.
Ai, morte, morte,
que sonhas com outra vida.
Ai, dureza, dureza,
dureza que arde o mar.
O coração de vidro
envolto em tanto sofrimento
virou uma ameixa estragada,
esquecida na fruteira.
O ar da noite suspira
enquanto o cigano recolhe
as cinzas que deixaram.
Jogaram trinta moedas
para oferecer seu
Cristo amortalhado.
O sol ofereceu sua luz suave
enquanto queimava
o resto dos quadros.
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