ESTRELA BRILHANDO NA NOITE E O EDIFÍCIO CHEIO DE JANELAS, E OUTROS POEMAS QUALQUERES
entre mim e você
há uma grande tristeza,
uma tristeza que não fede,
uma tristeza que não cheira.
eu queria mil estrelas,
para poder tocar você.
eu queria uma estrela,
só pra esquentar você.
hoje o dia está frio
frio desses de morrer.
hoje o dia está frio
e eu esqueço de você.
QUERIA SER UM PAPAGAIO
Queria ser um papagaio,
ai quem me dera,
ser um papagaio verde,
brasileiro,
macho, é claro,
por causa do patriarcado,
ser um papagaio feliz
e recitar manuel bandeira
em galho em galho.
Depois ir namorar
com as papagaias fêmeas,
comendo fruta,
quem sabe até araçá.
RIO
Pudera ser um rio,
eu mesmo seria assim,
fluvial,
vago,
partiria daqui,
chegaria ali,
seria um rio,
sem importar
com namoro, felicidade,
casamento, filhos, empregos,
etc...
e meu final? seria se
encontrar com o mar.
Um paraíso de águas plenas.
A RUA
Ali fora está a rua, a rua onde posso
sair para ir comprar café.
Ali fora, ali, cheio de gente
estranha, que eu não conheço, e que não me conhece.
Como é bom ver a rua daqui do meu apartamento,
porque eu tenho medo de ser atropelado
por esses motoristas doidos.
ESTRELA BRILHANDO NA NOITE E O EDIFÍCIO CHEIO DE JANELAS
Agora que estou indo embora
dessa porra de trabalho
vejo ali em cima, em cima do telhado
duas coisas que me espantam,
e eu fico assombrado:
a estrela brilhando na noite
na noite escura
e o edifício cheio de janelas
janelas claras
com luzes amarelas laranjas brancas.
Eta vida besta, Deus meu!
Noites
Noites úmidas em Solidão,
erotismo fundido de um Coração.
Meu desejo é uma saudade, então!,
Da carnalidade, da voluptuosa força da excitação.
AUTO-RETRATO
Nasci em São Paulo,
então sou Paulista.
Deus queira me explicar
meu primo me zombando
por não ser paulistano.
Nasci em São Paulo,
sou feito de prédios.
Digo, nasci no estado,
não na cidade.
Eu nasci cheio de fumaça,
de dinheiro,
cheio de favelas e pobrezas.
Nasci cheio de gentes,
pessoas, boas, estrangeiras,
japonesas, árabes, judeus,
nasci em São Paulo,
cheio de riquezas, condominios,
livros importantes,
e pessoas trabalhando de um lado
para o outro.
Essa é a minha única autobiografia.
Acho que Fernando Pessoa errou.
Só essa data existe na linha da minha existência.
Paulista eu sou.
CAUSA DA JANELA
Passou pela minha janela
um desejo de namorar.
Era um desejo desses, bem simples,
feitos de mariposas,
corvos,
rosas e lírios.
Passou e voou para longe, bem longe,
e se perdeu no mar do amar.
BEL
Bel, bel,
escuta esse sino,
dlim,dlim,
canta o menino.
Ah, Bel,
florzinha linda,
nina e dorme
que lá vem a caipirinha.
MEL
A abelha fez o gosto
o tecido da mariposa,
e o Mel abriu a rua
e depois levou lantejoulas
até o outro lado do mapa da lua.
CAFÉ
Vou tomar um café,
um café com leite,
vou adoçar esse café
com a colher,
duas colheres de açúcar,
sim,
e depois vou mexer,
vou pôr o leite na xícara,
a xícara é com x, e com x
posso escrever xixi.
Não vamos fazer xixi na xícara,
como diria o bom Quintana.
escrevo
Eu escrevo assim sem saber porque...
Escrevo...
se faz sol,
desses da gente reclamar do calor
a ponto da nossa mãe fazer uma
gostososa limonada,
escrevo.
Se faz frio,
desses de bater o dente,
e a gente se esconder debaixo do cobertor,
escrevo.
Quando namoro, estou escrevendo mil versos de amor
para que Lolo, a namoradinha da esquina
não me deixe para ir beijar o Paulinho, meu arqui inimigo.
Quando estou triste,
escrevo, escrevo, escrevo.
Se estou feliz escrevo.
Será que na outra vida
eu fui uma máquina de escrever?
CAUSO MARINHO
Fiz muitos poemas sobre o mar,
até que me cansei,
e fui me deitar.
É verdade,
quando eu não conhecia o mar
eu o amava.
Assim que o conheci,
não é que o detestei
(meu DEUS do céu
eu nunca vi tanta água a rebolar)
fiquei enjoado
igual aquele rei Portugues
que me falha a memória
que ao andar uma vez só na vida
de barco
passou mal
e nunca mais tirou os pés da terra.
CAUSO CHUVOSO
Não se pode enjoar da chuva.
Isso não é nenhum dilema poético.
A chuva, essa água doce
que cai, e que xingo quando
saio para trabalhar e fico todo molhado.
Não, não se pode enjoar da chuva.
A chuva chuvosa que cai e limpa
o chão terroso de terra.
O POEMA
e se fez
e nasceu do acaso
e foi a sorte
e foi pensando
e brotou da terra
e brotou do mar
e virou nuvem
depois pessoa
e depois findou
fechou-se num papel
caiu do jornal
virou um livro
e ponto final.
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