I
Esse é o sol que nunca
aparece. Longe, tão longe,
camufla-se na lua,
forma eclipse (ou é apenas
uma mulata nua?).
De vez em quando aparece
zombando do outro sol:
são dois; são duas;
façam a conta, meninada
da escola; pois a lua é
apenas uma lâmpada
que tem um "gato" de energia.
II
A cada parágrafo do dia
nasce uma rima, um versículo,
uma pedra, um santo, um menino,
uma menina e um vestido branco.
Sei que não é da minha conta,
mais mesmo assim conto as
lágrimas dos rostos dos homens.
Ó parágrafo bíblico, ensinai-me
o amor amigo (aquele mesmo,
que o rabi Cristo ensinou-nos).
III
O sorriso dela
(semelhante a um
arame da cerca)
abriu-se como a lua
na noite.
"My love dear, my dear
love"; alterou-se sua
linguagem portuguesa.
E eu sorri para ela
"One kiss? my little woman?"
-Ó sim, mais "aquilo", só depois
de casada.
IV
Vi e ouvi aquilo
que eu gostaria de ser:
-jamais astronauta
-jamais calheiro
-jamais carpinteiro.
V
Todas as coisas que
eu canto são próprias
livres e tão minhas que
até me espanto: a manhã da
natureza, o som dos pássaros,
a poesia de Neruda, a areia
das praias
(foto: ilustrativa)
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